Netanyahu diz que a decisão de ocupar totalmente Gaza está tomada

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, confirmou na segunda-feira que foi tomada a decisão de ocupar totalmente a Faixa de Gaza, incluindo operações militares em zonas onde se crê haver reféns.
"Estamos a comprometer-nos a libertar Gaza da tirania destes terroristas", afirmou Netanyahu num discurso em vídeo publicado no X.
Muitos habitantes de Gaza vêm ter connosco e dizem: "Ajudem-nos a ser livres. Ajudem-nos a ser livres do Hamas' e é isso que vamos fazer".
Numa mensagem, o gabinete do primeiro-ministro disse ao chefe do Estado-Maior, o tenente-general Eyal Zamir, que "se isto não lhe convém, deve demitir-se".
Netanyahu e Zamir têm estado em desacordo com a forma como a guerra em Gaza está a ser travada, tendo essas tensões "atingido o seu auge" na segunda-feira, de acordo com um relatório da Rádio do Exército israelita.
O anúncio de Netanyahu surge após meses de conversações hesitantes no Qatar entre Israel e o Hamas, enquanto os mediadores se esforçam por ultrapassar os obstáculos de ambas as partes e chegar a um acordo de cessar-fogo e de libertação de reféns, numa altura em que a situação humanitária na Faixa de Gaza se deteriora.
Programa de Segurança e Recuperação de Gaza
Não foram dados quaisquer outros pormenores sobre os planos para uma Gaza pós-guerra, mas podem coincidir com os de um documento visto pela Euronews com data de dezembro de 2023.
Essa proposta, sob a forma de um documento académico de 32 páginas intitulado "Gaza Security and Recovery Program, How Should The Day After Look Like", é da autoria do Fórum de Defesa e Segurança de Israel, um grupo de mais de 35.000 reservistas das forças de segurança israelitas e do grupo de reflexão Jerusalem Centre for Security and Foreign Affairs.
O estudo foi apresentado ao governo israelita em data desconhecida e representa uma das opções futuras que Israel está atualmente a considerar para a Faixa de Gaza, de acordo com funcionários que falaram com a Euronews.
A proposta descreve como deveria ser o "dia seguinte" no cenário da queda do Hamas.
Trata-se de uma reconstrução económica de infraestruturas e, como dizem os autores do estudo, de "desenraizar uma ideologia assassina", também designada como um processo de "desnazificação".
"Para se preparar para a nova situação, embora os resultados da operação militar ainda não tenham sido alcançados, é necessário preparar um plano ordenado para o controlo da Faixa de Gaza após a queda do Hamas", lê-se no documento.
O plano exclui explicitamente a soberania da Palestina, ou mais especificamente a Autoridade Palestiniana (AP), ou a presença da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) como fonte de ajuda humanitária.
"Não menos grave é a ideia insensata de criar um Estado palestiniano em Gaza", lê-se no documento. No entanto, não é dito no referido relatóro se Israel tenciona anexar a Faixa de Gaza, embora seja claramente afirmado que os militares israelitas (IDF) querem ter uma maior influência na administração geral dos assuntos de Gaza.
A autenticidade do documento foi confirmada por um alto funcionário do governo, que falou à Euronews sob condição de anonimato para não interferir com o trabalho do governo, bem como por Ohad Tal e Simcha Rothman, dois membros do Knesset do Partido Nacional Religioso, de extrema-direita, que faz parte da coligação governamental.
"Os conteúdos deste documento fazem parte dos planos que o governo está a analisar, estão em cima da mesa", confirmou o alto funcionário governamental à Euronews.
O funcionário especificou que não se trata de um "plano finalizado", no entanto, faz "definitivamente parte dos cenários que estão em cima da mesa".
"Este plano está em cima da mesa e é consistente com a direção que o governo está a seguir", confirmou Tal.
Rothman disse à Euronews que, apesar de o plano continuar a ser um "alvo em movimento", os critérios delineados, tais como "a eliminação do Hamas, a não presença da AP (Autoridade Palestiniana) em Gaza, a não existência de um Estado palestiniano, a não existência da UNWRA, (são) consistentes com a minha abordagem e, tanto quanto sei, com a abordagem do governo".
Refutação de Sa'ar
Os comentários de Netanyahu na segunda-feira contradizem os do Ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Gideon Sa'ar, que disse à Euronews no mês passado que Israel não tem "qualquer intenção" de controlar Gaza a longo prazo.
"Não temos qualquer intenção de o fazer", disse Sa'ar. "No que diz respeito à Faixa de Gaza, temos apenas preocupações de segurança".
"Vamos [implementar] o plano de Trump, é um bom plano e faz a diferença, e significa algo muito simples, que os residentes de Gaza que querem sair podem sair", disse Netanyahu, referindo-se a uma proposta apresentada por Trump de reinstalar toda a população de Gaza noutros países.
Este plano foi recebido com horror pelos países da região e por grupos humanitários internacionais, que afirmaram que a reinstalação forçada da população constituiria uma violação do direito internacional.
Trump disse que tinha planos para transformar Gaza na "Riviera do Médio Oriente", com hotéis resort de luxo e centros comerciais.
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