Líbano apoia proposta dos EUA para que Hezbollah se desarme e forças israelitas se retirem do Sul

O governo libanês aprovou na quinta-feira uma proposta dos EUA que prevê o desarmamento do grupo militante Hezbollah e a retirada militar israelita do sul do país.
As tensões têm vindo a aumentar no Líbano devido à crescente pressão interna e internacional para que o Hezbollah abandone o arsenal que ainda possui, após uma guerra contundente com Israel que terminou em novembro passado com um cessar-fogo mediado pelos EUA.
O próprio Hezbollah tem-se recusado a desarmar.
Quatro ministros xiitas abandonaram o cargo antes da votação. Entre eles contavam-se membros do bloco parlamentar do Hezbollah e do partido aliado Amal, bem como o deputado xiita independente Fadi Makki.
Makki afirmou numa publicação no X que tinha "tentado trabalhar para colmatar as lacunas e aproximar os pontos de vista de todos os partidos", mas que não conseguira.
Makki disse ainda que decidiu abandonar a reunião depois de os outros ministros xiitas terem saído.
"Não podia assumir a responsabilidade de tomar uma decisão tão importante na ausência de um elemento-chave da discussão", afirmou.
O plano para desarmar o Hezbollah
O governo libanês pediu ao exército nacional, na terça-feira, que preparasse um plano no qual apenas as instituições do Estado terão armas até ao final do ano.
Após a reunião do Conselho de Ministros, o Hezbollah acusou o governo de ceder às pressões dos Estados Unidos e de Israel e disse que "trataria esta decisão como se não existisse".
O ministro da Informação, Paul Morcos, disse mais tarde que o Conselho de Ministros tinha votado a favor da adoção de uma lista de objetivos gerais definidos numa proposta apresentada pelo enviado dos EUA, Tom Barrack, às autoridades libanesas.
Estes objetivos incluem o "fim gradual da presença armada de todos os intervenientes não estatais, incluindo o Hezbollah, em todo o território libanês", a retirada das forças israelitas do sul do Líbano, o fim dos ataques aéreos israelitas e a libertação dos prisioneiros libaneses detidos em Israel, bem como a eventual demarcação da fronteira entre o Líbano e Israel, ainda em disputa, disse Morcos.
Os pormenores da proposta dos EUA ainda estão a ser discutidos, acrescentou Morcos.
Os responsáveis do Hezbollah afirmaram que o grupo não discutirá a possibilidade de ceder o seu arsenal até que Israel se retire das cinco colinas que ocupa no interior do Líbano e pare os ataques aéreos quase diários.
Os ataques aéreos mataram ou feriram centenas de pessoas, a maioria das quais membros do Hezbollah, desde o fim da guerra em novembro.
Enquanto decorria a reunião do Conselho de Ministros, um ataque israelita na estrada que conduz ao principal posto fronteiriço do Líbano com a Síria matou cinco pessoas e feriu outras 10, informou o Ministério da Saúde libanês.
Israel não se pronunciou de imediato e acusou o Hezbollah de tentar reconstruir as suas capacidades militares, afirmando que está a proteger a sua fronteira. Desde o cessar-fogo, o Hezbollah reivindicou a responsabilidade por um ataque do outro lado da fronteira.
O Hezbollah está ideologicamente alinhado com o grupo militante Hamas, sediado em Gaza, e começou a disparar contra Israel no dia seguinte ao início da guerra na Faixa de Gaza, afirmando estar solidário com o povo palestiniano.
Esforços internacionais para a paz
Andrea Tenenti, porta-voz da missão de manutenção da paz da ONU no Líbano (UNIFIL), disse que as forças de manutenção da paz encontraram recentemente uma "vasta rede de túneis fortificados" em diferentes áreas do sul do Líbano.
Incluem "vários bunkers, peças de artilharia, vários lançadores de rockets, centenas de projéteis e rockets, minas anti-tanque e outros engenhos explosivos", disse.
Tenenti não especificou qual o grupo que está por detrás dos túneis e das armas.
Um membro do Congresso dos EUA afirmou que Washington vai pressionar Israel a retirar-se de todo o sul do Líbano se o exército libanês afirmar o controlo total do país.
"Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir - e isto é algo em que trabalharei com os israelitas - uma retirada total em troca de as Forças Armadas libanesas demonstrarem a sua capacidade de proteger todo o Líbano", declarou Darrell Issa, após um encontro com o presidente libanês Joseph Aoun em Beirute.
Não especificou se os EUA pediriam a Israel que começasse a retirar as suas forças do território que ocupa no sul do Líbano antes ou depois de o Hezbollah abandonar o seu arsenal.
Issa, que é de origem libanesa, disse que os EUA devem "ajudar todos os vizinhos ao redor a entender que é direito exclusivo das Forças Armadas libanesas tomar decisões".
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