Igreja histórica sueca "rebocada" para não ser engolida por mina

Uma igreja histórica na Suécia está a ser transferida de forma integral, num reboque gigante, para evitar que seja danificada pela expansão da maior mina subterrânea de minério de ferro do mundo.
A Igreja de Kiruna, com 113 anos de idade, e o seu campanário estão a ser transportados, esta semana, ao longo de um percurso de cinco quilómetros para leste, para uma nova casa, como parte da relocalização da cidade no extremo norte da Suécia.
Kiruna é a cidade mais a norte do país, a 200 quilómetros acima do Círculo Polar Ártico, e tem cerca de 23.000 habitantes, incluindo membros do povo indígena Sami.
A mudança do centro da cidade, incluindo a igreja, está em desenvolvimento desde 2004.
À medida que a mina de minério de ferro, que remonta a 1910, se expandia mais profundamente no subsolo, os residentes começaram a ver fissuras nos edifícios e nas estradas.
Para atingir uma nova profundidade de 1.365 metros - e para evitar que Kiruna fosse engolida - as autoridades começaram a mudar os edifícios para um novo centro da cidade, a uma distância segura da mina. A lei sueca proíbe qualquer atividade mineira debaixo de edifícios.
Até julho, 25 edifícios tinham já sido levantados em vigas e transportados para leste. Mas a igreja - que tem cerca de 40 metros de largura e pesa 672 toneladas - exigiu um esforço adicional.
A operadora da mina, a LKAB, teve de alargar uma estrada principal de nove para 24 metros e desmantelar um viaduto para dar lugar a um novo cruzamento que permitisse a relocalização da igreja.
"Fizemos muitos preparativos", disse à BBC Stefan Holmblad Johansson, gestor de projeto da LBAK para a mudança. "É um acontecimento histórico, uma operação muito grande e complexa e não temos margem de erro. Mas está tudo sob controlo".
Ir à igreja - ou trazer a igreja até mim?
No caso da igreja, um motorista utilizando uma caixa de controlo de grandes dimensões está a conduzir o edifício ao longo do percurso, que dura aproximadamente 12 horas entre terça e quarta-feira. Espera-se que se mova a uma velocidade variável entre 0,5 e 1,5 quilómetros por hora.
A mudança desta semana transformou-se num espetáculo mediático altamente coreografado de dois dias, organizado pela LKAB e com a participação do rei Carl XVI Gustaf da Suécia, tendo contado também com uma apresentação musical de KAJ, o representante do país no Festival Eurovisão da Canção 2025.
A emissora nacional sueca SVT está a transmitir em direto o transporte nos dois dias, chamando-lhe "A Grande Caminhada da Igreja" para aproveitar o sucesso da exibição, na primavera, de "A Grande Migração dos Alces", que encanta milhões de telespetadores anualmente desde 2019.
Mas nem todos estão entusiasmados com a relocalização.
Lars-Marcus Kuhmunen, presidente de uma das organizações de criadores de renas Sami em Kiruna, disse que os planos da LKAB para uma nova mina podem ameaçar as rotas de migração das renas e pôr em risco o sustento dos criadores da região.
A LKAB, que é o principal empregador em Kiruna, está a cobrir os custos da relocalização, estimados em mais de 10 mil milhões de coroas suecas (898 milhões de euros), segundo a imprensa local.
Em 2001, o público sueco elegeu a Igreja de Kiruna como o "melhor edifício de todos os tempos construído antes de 1950", numa votação organizada pelo Ministério da Cultura. Edificada numa colina para que os fiéis pudessem ter uma vista panorâmica sobre o resto da cidade de Kiruna, a igreja luterana sueca foi projetada para imitar o estilo Sami como um presente da LKAB.
Today