Israel intercetou dezenas de barcos destinados a Gaza, dando origem a protestos generalizados

As forças israelitas intercetaram dezenas de barcos da flotilha que transportavam ajuda humanitária para Gaza, informaram os organizadores da flotilha na quinta-feira, incluindo aqueles onde seguiam os portugueses Mariana Mortágua, Sofia Aparício e Miguel Duarte.
As autoridades israelitas afirmaram que os ativistas a bordo dos navios intercetados, incluindo a ativista climática Greta Thunberg, estavam em segurança e foram transferidos para Israel. O ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, disse à emissora pública italiana Rai que os ativistas seriam deportados nos próximos dias e que as forças israelitas foram informadas "para não usarem violência".
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia condenou a interceção dos barcos por Israel, denunciando-a como um "ato de terrorismo" e uma grave violação do direito internacional.
A flotilha é composta por cerca de 500 ativistas, incluindo Greta Thunberg, o neto de Nelson Mandela, Mandla Mandela, a antiga presidente da Câmara de Barcelona, Ada Colau, e vários deputados europeus.
O grupo, que tem transmitido em direto a sua missão, afirmou que não se deixa intimidar pelo seu objetivo de quebrar o bloqueio israelita de longa data a Gaza e levar ajuda aos palestinianos.
"As interceções ilegais israelitas não nos vão dissuadir. Continuamos a nossa missão para quebrar o cerco e abrir um corredor humanitário", afirmou a organização numa publicação no Instagram.
O que aconteceu?
As embarcações navegavam em águas internacionais a norte do Egito e entraram no que os ativistas designam por "zona de perigo", uma área que as autoridades israelitas avisaram a flotilha para não atravessar e onde já tinham mandado parar outras embarcações.
Segundo os ativistas, a marinha israelita aproximou-se da flotilha na madrugada de quarta-feira e, através de uma mensagem de rádio, indicou que a tripulação deveria mudar de rota, uma vez que se aproximava de uma "zona de combate ativa", reiterando a oferta de transferir a ajuda para Gaza através de outros canais.
Ao cair da noite, a flotilha registou a aproximação de dezenas de navios de guerra. Pouco depois, a transmissão em direto da maioria dos navios foi interrompida. Alguns ativistas conseguiram transmitir em direto o momento em que as forças israelitas se aproximaram através dos seus smartphones, antes de atirarem os aparelhos à água.
Nos seus canais nas redes sociais, o grupo partilhou vídeos pré-gravados de ativistas a bordo de vários dos navios intercetados, cada um indicando o seu nome e nacionalidade. "Se estão a ver este vídeo", começavam muitos deles, declarando que tinham sido levados por Israel contra a sua vontade e reiterando a natureza não violenta da sua missão.
O grupo iniciou a sua viagem no porto de Espanha e, mais tarde, juntaram-se-lhe comboios adicionais de Itália e da Tunísia. Segundo os organizadores, a flotilha, que constitui a maior tentativa de quebrar o bloqueio marítimo israelita à Faixa de Gaza, que dura há 18 anos, deveria chegar às costas do enclave na quinta-feira de manhã. Os organizadores reconheceram a probabilidade de interceção, tendo em conta que as autoridades israelitas bloquearam todas as tentativas anteriores.
Indignação internacional
A interceção da flotilha por Israel suscitou críticas generalizadas, com protestos em grandes cidades de todo o mundo, incluindo no Reino Unido, Itália, Grécia, Espanha, Bélgica, Turquia, Argentina e Colômbia.
Em Portugal estão programados protestos em várias cidades do país, esta quinta-feira. “Convidamos todas as pessoas solidárias com a Palestina, defensoras da paz e dos direitos humanos e todas e todos os cidadãos indignados com este ataque a juntarem-se a nós neste protesto”, lê-se na publicação que a Flotilha Humanitária em Portugal fez no Instagram.
Em Itália, milhares de pessoas reuniram-se nas ruas de Roma, Nápoles, Milão e Turim. Os manifestantes na capital italiana gritaram "vamos bloquear tudo" e levaram as autoridades a fechar várias estações de metro. Em Nápoles, os manifestantes percorreram os carris da principal estação da cidade, gritando "Palestina livre" e agitando numerosas bandeiras.
Na capital da Argentina, Buenos Aires, os manifestantes juntaram-se para instar o governo a tomar medidas para libertar Celeste Fierro, uma legisladora eleita pelo Movimento Socialista dos Trabalhadores, que se encontrava a bordo do navio Adara.
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