Megaoperação contra gangue no Rio de Janeiro faz pelo menos 64 mortos e 80 presos
Considerada a maior ação policial da história do país, as autoridades informaram ter levado a cabo uma megaoperação com agentes de várias forças policiais, em helicópteros, com forças especiais em veículos blindados (BOPE), que teve como alvo o Comando Vermelho nas favelas do Complexo do Alemão e da Penha.
As autoridades relataram a existência de tiroteios no local, os quais causaram 64 vítimas mortais: 60 deles suspeitos e quatro deles agentes da polícia (dois da Civil e dois do BOPE, segundo a imprensa brasileira).
Um jornalista da Associated Press (AP) viu pelo menos 10 corpos chegarem ao Hospital Getulio Vargas, na Penha, dois deles, agentes da polícia. Um número desconhecido de pessoas ficou ferido.
Imagens nas redes sociais mostraram fogo e fumo a subir das duas favelas enquanto se ouviam tiros. O Departamento de Educação da cidade informou que 46 escolas, nos dois bairros, foram fechadas. Ao passo que a Universidade Federal do Rio de Janeiro, nas proximidades, cancelou as aulas noturnas e informou as pessoas que estavam no campus que deviam procurar abrigo.
As autoridades detiveram pelo menos 80 suspeitos, informou a polícia civil do Rio em comunicado. Tendo sido ainda apreendidas 93 espingardas e mais de meia tonelada de estupefacientes, revelou o governo estadual, acrescentando que os mortos "resistiram à ação policial".
Claudio Castro, governador do estado do Rio, disse que a operação foi a maior da história da cidade e que o governo federal deveria fornecer mais apoio para combater o crime. Detalhou ainda que 60 suspeitos da prática de crimes foram "neutralizados".
A ação coordenada na terça-feira foi resultado de um ano de investigação sobre o grupo criminoso, informou a polícia. As autoridades deixaram ainda um aviso, na rede social X, aos responsáveis pela morte dos agentes no contexto desta intervenção: "Os ataques cobardes dos criminosos contra os nossos agentes não ficarão impunes".
A operação foi uma das mais violentas da história recente do Brasil, com as organizações de direitos humanos a pedirem investigações sobre as mortes.
Qual foi o motivo da operação?
Surgido nas prisões do Rio de Janeiro, o gangue criminoso Comando Vermelho expandiu o seu controlo sobre as favelas nos últimos anos.
O gangue é acusado de tráfico de drogas pesadas, e a polícia do Rio informou que dezenas de armas, e mais de 200 kg de cocaína, foram encontrados durante a operação.
Embora a operação policial de terça-feira tenha sido semelhante às anteriores, a sua escala foi sem precedentes, disse Luis Flavio Sapori, sociólogo e especialista em segurança pública da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
"O que é diferente na operação de hoje é a magnitude [do número] de vítimas. São números de guerra", destacou.
Segundo Sapori, este tipo de operações é ineficaz porque não costuma resultar na detenção dos líderes, mas sim dos subordinados, que podem ser substituídos posteriormente.
De acordo com a imprensa local, alguns alegados membros de gangues bloquearam estradas no norte e sudeste do Rio em resposta à operação.
Pelo menos 70 autocarros foram utilizados nos bloqueios, causando danos significativos na operação rodoviária, informou a empresa de autocarros da cidade, a Rio Onibus.
Grupos de direitos humanos condenam a violência
Entretanto, o organismo de defesa dos direitos humanos das Nações Unidas declarou-se "horrorizado" com a operação policial mortal, apelou a investigações eficazes e recordou às autoridades as suas obrigações ao abrigo do direito internacional em matéria de direitos humanos.
César Muñoz, diretor da Human Rights Watch no Brasil, apelidou os acontecimentos de terça-feira de "uma enorme tragédia" e um "desastre".
"O Ministério Público deve iniciar as suas próprias investigações e esclarecer as circunstâncias de cada morte", disse Muñoz, em comunicado.
O Rio de Janeiro tem sido palco de ataques policiais letais há décadas. Em março de 2005, cerca de 29 pessoas foram mortas na Baixada Fluminense, ao passo que, em maio de 2021, 28 foram mortas na favela do Jacarezinho.
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