Civis em fuga de El-Fasher acusam rebeldes de cometerem atrocidades
O grupo paramilitar do Sudão, Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla original), tomou a cidade de El-Fasher na região do Darfur, oeste do Sudão, no fim e semana de 25 e 26 de outubro, após um cerco que durou 18 meses. Segundo Seif Magango, porta-voz do gabinete de direitos humanos das Nações Unidas (ONU), há "relatos horrendos de execuções sumárias, assassinatos em massa, violações, ataques contra trabalhadores humanitários, saques, sequestros e deslocações forçadas".
No meio dos ataques da milícia que se opõe ao governo sudanês foram apanhadas dezenas de milhares de pessoas, e muitas famílias foram destruídas ou separadas.
"As ruas estavam cheias de pessoas mortas. Conseguimos chegar a uma das barreiras de areia montadas pela RSF. Eles estavam a disparar contra pessoas, homens, mulheres e crianças, com metralhadoras. Ouvi um deles dizer: 'Matem todos, não deixem ninguém vivo'", relatou à Al Jazeera Adam Yahya, que fugiu com quatro dos seus filhos e cuja esposa foi morta numa incursão com drones da RSF pouco antes da queda de El-Fasher.
Magango afirmou que à ONU foram recebidos inúmeros testemunhos de residentes que fugiram aterrorizados quando a cidade caiu e depois «sobreviveram à perigosa viagem até Tawila", localidade situada a cerca de 70 quilómetros de El-Fasher, num percurso que leva de três a quatro dias a pé.
Um dos episódios mais chocantes foi o assassinato de pessoas doentes e feridas dentro do Hospital Maternidade Saudita e em edifícios nos bairros de Dara Jawila e Al-Matar, que estavam a ser usados como centros médicos temporários.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 460 pacientes e pessoas que os acompanhavam foram mortos durante o ataque.
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos avança que foi também documentado o assassinato de trabalhadores humanitários e voluntários locais que apoiavam comunidades vulneráveis em El Fasher. Pelo menos dois socorristas humanitários locais foram mortos na cidade a 27 de outubro, informa este órgão da ONU, que, até 29 de outubro, registou pelo menos quatro incidentes em que pessoal humanitário e voluntários locais foram agredidos. Três médicos estão detidos pela RSF em El Fasher, confirma o Alto Comissariado.
Pelo menos 2 mil mortos desde tomada de El-Fasher
De acordo com o governo do Sudão, pelo menos 2 mil pessoas foram mortas desde a tomada de El Fasher, mas as testemunhas dizem que os números podem ser bem maiores.
As agências de ajuda humanitária estimam que dezenas de milhares de civis ainda se encontrem presos na cidade e milhares estejam em fuga. A guerra civil no Sudão, que começou em abril de 2023, já provocou pelo menos 40 mil mortos, 12 milhões de deslocados e uma uma situação de fome generalizada, com a disseminação de várias doenças, entre as quais a cólera. É a "maior crise humanitária do mundo" na avaliação da ONU.
Entretanto, o Tribunal Penal Internacional fez saber que está a recolher provas das atrocidades denunciadas. O destino de quase 200 mil pessoas que se acredita estarem presas em El-Fasher permanece desconhecido.
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