Forças curdas lutam contra rebeldes apoiados pela Turquia no norte da Síria
As Forças Democráticas Sírias (SDF), lideradas pelos curdos, lançaram esta terça-feira uma contraofensiva contra o Exército Nacional Sírio (SNA), apoiado por Ancara, com o objetivo de retomar zonas próximas da fronteira norte da Síria com a Turquia.
Desde a queda do regime totalitário de Bashar al-Assad no início deste mês, intensificaram-se os confrontos entre as SDF, apoiadas pelos EUA, e o SNA, que capturou a cidade-chave de Manbij e as áreas circundantes.
Os confrontos, que duram há várias semanas, ocorrem numa altura em que a Síria, devastada por mais de uma década de guerra e miséria económica, negoceia o seu futuro político após mais de meio século sob o domínio da dinastia al-Assad.
Ruken Jamal, porta-voz da Unidade de Proteção das Mulheres, ou YPJ, das SDF, disse à Associated Press que os seus combatentes estão a pouco mais de 11 quilómetros de distância do centro de Manbij, no seu contra-ataque em curso.
Jamal acusou a Turquia de tentar enfraquecer a influência do grupo nas negociações sobre o futuro político da Síria através do SNA.
"A Síria está agora numa nova fase e estão em curso discussões sobre o futuro do país", disse Jamal. "A Turquia está a tentar, através dos seus ataques, distrair-nos com batalhas e excluir-nos das negociações em Damasco."
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, com sede no Reino Unido, monitoriza a guerra e afirma que desde que a ofensiva do SNA no norte da Síria contra os curdos começou no início deste mês, dezenas de pessoas de ambos os lados foram mortas.
Para Ancara, as SDF são uma filial do seu inimigo declarado, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que classifica como organização terrorista. Há anos que os grupos armados apoiados pela Turquia, juntamente com os jatos turcos, atacam posições onde as SDF estão presentes em grande parte do norte da Síria, numa tentativa de criar uma zona tampão livre do grupo ao longo da grande fronteira comum.
Embora o SNA tenha estado envolvido na insurreição relâmpago - liderada pelo Hayat Tahrir al-Sham ou HTS - que derrubou al-Assad, continuou a sua pressão contra as SDF, vistas como o segundo ator-chave da Síria para o seu futuro político.
Entretanto, as SDF contam com o apoio de Washington, que considera as forças curdas como o seu principal aliado contra as bolsas que ainda restam do chamado Estado Islâmico e dos seus satélites.
Ancara não vai ceder?
Na segunda-feira, o porta-voz das SDF, Farhad Shami, disse que as forças do grupo fizeram recuar os rebeldes apoiados pela Turquia de áreas próximas da barragem de Tishrin, no rio Eufrates, uma fonte chave de energia hidroelétrica. Ele disse que as SDF também destruíram um tanque pertencente aos rebeldes a sudeste de Manbij.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, baseado no Reino Unido, afirmou na terça-feira que o grupo liderado pelos curdos, após os combates durante a noite, recuperou quatro aldeias nas áreas próximas da barragem estratégica.
Os jatos turcos também bombardearam a importante cidade fronteiriça de Kobani nos últimos dias.
Durante a revolta síria que se transformou em conflito, os curdos criaram um enclave governado autonomamente no nordeste da Síria, nunca se aliando totalmente a al-Assad em Damasco nem aos rebeldes que tentavam derrubá-lo.
Mesmo com a família al-Assad fora de cena, parece que a posição de Ancara não vai mudar, com a visita histórica do Ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan, à Síria, que manteve uma posição forte sobre o grupo liderado pelos curdos no seu encontro com o líder de facto Ahmad al-Sharaa, anteriormente conhecido como Abu Mohammad al-Jolani, do HTS.
"A comunidade internacional está a fechar os olhos ao terrorismo, que se manifesta na região através de membros do PKK e de grupos de extrema-esquerda provenientes da Turquia, do Iraque, do Irão e da Europa", afirmou Fidan numa conferência de imprensa após a reunião. "A comunidade internacional está a fechar os olhos a esta ilegalidade por causa da proteção que proporciona (contra o chamado Estado Islâmico)".
O comandante das SDF, Mazloum Abdi, manifestou a sua preocupação com um forte ressurgimento do Estado Islâmico devido ao vazio de poder na Síria e aos combates em curso, que deixaram o grupo liderado pelos curdos incapaz de levar a cabo os seus ataques e incursões contra as células adormecidas dispersas do grupo extremista.
Yesterday