Zelenskyy e Trump discutem territórios da Ucrânia e garantias de segurança dos EUA

Depois de semanas de conversações entre Kiev e Washington, Donald Trump encontra-se com Volodymyr Zelenskyy na Flórida, este domingo, com ambos a darem sinais de que podem conseguir um avanço diplomático nas últimas horas de 2025 para chegar a um acordo de paz.

Zelenskyy disse que "muito pode ser decidido antes do Ano Novo, uma vez que o Presidente dos EUA afirmou acreditar que existe uma boa hipótese de alcançar a paz entre a Rússia e a Ucrânia" durante a visita a Mar-a-Lago.

A reunião é o culminar de semanas de diplomacia de alto nível entre as duas delegações. No período que antecedeu as conversações, a Rússia lançou mais um ataque maciço com mísseis e drones contra a capital ucraniana.

Enquanto fazia escala em Halifax, no Canadá, onde se encontrou com o primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, o presidente Zelenskyy também se encontrou com os líderes europeus. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o objetivo é garantir uma "paz justa e duradoura que preserve a soberania e a integridade territorial da Ucrânia".

O que é discutido na reunião de domingo na Florida?

O presidente ucraniano afirmou que as equipas de negociação prepararam "os primeiros esboços de vários documentos" discutidos na reunião deste domingo. "Há certas questões que só podem ser discutidas ao nível dos líderes", afirmou, explicando que estas incluem especificamente garantias de segurança, cooperação económica e a questão dos territórios ucranianos.

Zelenskyy diz que, no que diz respeito às garantias de segurança, "existem vários documentos e seria desejável encontrar uma oportunidade para os discutir a todos".

Quanto ao acordo económico, "nesta fase só existem rascunhos básicos". "Embora haja vários acordos, é necessário discutir a direção a seguir", acrescentou o presidente ucraniano.

Os detalhes destes dois aspetos do quadro de paz são o que Zelenskyy espera finalizar com Trump, uma vez que estes acordos são de natureza bilateral Ucrânia-EUA e não requerem o acordo de Moscovo.

Zelenskyy disse acreditar que o acordo de garantias de segurança entre a Ucrânia e os EUA "está quase pronto". "A questão de o assinar ou não, na minha opinião, já é uma questão secundária, dependendo do formato da nossa reunião. É por isso que acredito que este documento já está em cima da mesa", afirmou.

Sem fornecer pormenores sobre a forma como o acordo poderá ser assinado em Mar-a-Lago este domingo, Zelenskyy afirmou que está pronto para o rubricar.

Se a Ucrânia e os EUA fizerem progressos na questão das garantias de segurança, isso abrirá caminho para conversações mais substanciais sobre os territórios ucranianos ocupados pela Rússia.

Territórios ucranianos continuam a ser a questão mais complicada

Na sexta-feira, Zelenskyy disse que o plano de 20 pontos está 90% completo e que via a reunião de domingo com Trump como uma oportunidade para garantir que tudo estava 100% pronto.

As questões mais complicadas continuam a ser o controlo territorial nas regiões orientais da Ucrânia e a gestão da central nuclear de Zaporíjia.

A Rússia continua a fazer exigências "maximalistas", insistindo para que a Ucrânia abdique do restante território do Donbass que ainda não capturou - uma exigência que Kiev rejeita. Num esforço para facilitar o compromisso, Washington propôs a conversão destas áreas em zonas económicas livres. A Ucrânia, por seu lado, exige a desmilitarização da zona e a presença de uma força internacional para garantir a estabilidade, disse Zelenskyy aos jornalistas numa conferência de imprensa.

A futura gestão da central nuclear de Zaporíjia (ZNPP), a maior central da Europa que continua sob ocupação russa, é outra questão polémica.

Os EUA propõem um consórcio com a Ucrânia e a Rússia, com cada parte a ter uma participação igual na empresa. Zelenskyy contrapõe com uma proposta de joint-venture entre os EUA e a Ucrânia, segundo a qual Washington decidiria como atribuir a sua parte, assumindo que esta iria para Moscovo.

"Legalmente, não reconheceremos nada em nenhuma circunstância", disse Zelenskyy aos jornalistas no sábado, explicando que, mesmo sem o reconhecimento, "este assunto deve ser discutido com a sociedade". "A questão está em aberto: ou se trata de um referendo ou de certas alterações legislativas", acrescentou.

Para tal, explicou, a questão das garantias de segurança para a Ucrânia deve ser resolvida em primeiro lugar. "Se o lado norte-americano coloca a questão de um referendo ou de eleições, isso não pode ser feito nas condições em que vivemos atualmente. Nomeadamente, no que diz respeito aos ataques".

Estes comentários seguem-se a um bombardeamento "maciço" no sábado. O ataque, que durou 10 horas, teve como alvo principal Kiev, tendo ferido dezenas de pessoas e matado pelo menos duas na capital ucraniana e imediações.

"Hoje, a Rússia mostrou como reage às negociações pacíficas entre a Ucrânia e os Estados Unidos sobre o fim da guerra da Rússia contra a Ucrânia", comentou Zelenskyy no sábado. "A nossa consideração mais importante - se tomarmos certas medidas - é que as garantias de segurança são fortes e que estamos protegidos", acrescentou.

No sábado, Trump disse ao New York Post que acredita haver "uma boa hipótese" de chegar à paz, dizendo acreditar que a Rússia quer chegar a um acordo. "Penso que eles o querem fazer agora e penso que a Rússia o quer fazer. Mas sempre que um quer fazer, o outro não quer", acrescentou o presidente norte-americano.