Foto de eurodeputado croata em tempo de guerra causa agitação na vizinha Sérvia e leva-o a pedir a demissão

Uma publicação nas redes sociais de Tonino Picula, relator do Parlamento Europeu para a Sérvia, causou agitação na vizinha Sérvia e deu origem a apelos ao seu afastamento do cargo.
Picula, membro do partido croata SDP (de centro-esquerda), publicou um tweet na terça-feira para comemorar o 30.º aniversário da Operação Tempestade, uma operação militar que pôs fim ao paraestado de etnia sérvia e à guerra que assolou o país durante anos.
Na fotografia, um Picula visivelmente mais jovem brandia uma metralhadora pesada, usando uniforme militar.
"Agradeçamos a todos os que contribuíram para a defesa da soberania e da liberdade da República da Croácia", podia ler-se na publicação.
Picula lutou ao lado do exército croata e participou na Operação Tempestade, tendo anteriormente partilhado publicamente fotografias da linha da frente.
As reações foram rápidas. Após a condenação nas redes sociais e na comunicação social sérvia, o líder do partido da oposição SPS, Dragan Đilas, criticou Picula, afirmando que o eurodeputado "comprometeu a sua posição (...) porque não se pode ser relator com uma arma automática nas mãos".
"Acreditávamos que era um homem do futuro e não do passado. E assim foi até hoje", declarou Đilas na terça-feira.
O eurodeputado austríaco Harald Vilimsky, do Partido da Liberdade (FPÖ) de extrema-direita, e o porta-voz europeu do grupo parlamentar do FPÖ de Viena, Maximilian Krauss, criticaram o que descreveram como sendo "perturbador e politicamente muito perigoso".
"É completamente inapropriado que um relator da UE, que desempenha um papel fundamental no diálogo sensível entre a UE e a Sérvia, publique uma fotografia em equipamento de combate, ofendendo assim muitas pessoas. Trata-se de um grave erro diplomático", afirmou Vilimsky num comunicado divulgado na terça-feira.
"Com este post, Picula demonstrou de forma impressionante que não é adequado para este papel. Qualquer pessoa que celebre publicamente uma presença militar e, simultaneamente, emita recomendações constitucionais à Sérvia está a desperdiçar toda a credibilidade. Isto é uma afronta a todas as vítimas e deslocados desta tragédia", acrescentou Krauss.
Os dois políticos do FPÖ solicitaram às autoridades competentes da UE uma investigação imediata das acções de Picula.
A Operação Tempestade, que decorreu durante quatro dias no início de agosto de 1995, continua a ser uma questão controversa entre os dois países vizinhos.
A declaração de independência da Croácia em relação à ex-Jugoslávia, em 1991, desencadeou uma revolta da minoria étnica sérvia que tomou o controlo de cerca de um quinto do território do país no paraestado da República da Krajina Sérvia, apoiado por Belgrado. A Croácia recuperou a totalidade do seu território no âmbito da ação militar de 1995.
Segundo as estimativas das Nações Unidas, cerca de 150 000 pessoas de etnia sérvia fugiram para o que é atualmente a Sérvia e Montenegro e entre 10 000 e 15 000 chegaram à zona de Banja Luka, na vizinha Bósnia. A Sérvia afirma que o número ultrapassa os 250.000, para além das numerosas vítimas civis durante a ofensiva.
A maioria não regressou à Croácia após a Operação Tempestade, e a minoria representa atualmente cerca de 3,2% da população croata, de acordo com o censo de 2021, significativamente menos do que os 12,2% em 1991.
Esta não é a primeira vez que Picula é alvo de críticas na Sérvia. Em maio, a presidente do Parlamento sérvio, Ana Brnabić, acusou Picula de interferência nos assuntos internos do país dos Balcãs Ocidentais, depois de Picula ter respondido que as declarações do presidente Aleksandar Vučić estavam a tornar-se "cada vez mais bizarras".
Brnabić acusou o eurodeputado croata de fazer parte de uma caça às bruxas contra um país soberano, dizendo: "Picula, afasta-te da Sérvia". Picula tem rejeitado repetidamente as acusações de ter sentimentos "anti-sérvios".
A Euronews contactou o eurodeputado Picula para comentar o assunto.
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