Segurança rodoviária europeia em risco após acordo comercial entre UE e EUA, dizem ONG

O acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos não tem apenas implicações económicas e financeiras. Poderá também ter consequências para a segurança rodoviária na Europa. É este o alerta lançado pelas ONG na sequência da declaração conjunta publicada na semana passada pela Comissão Europeia e por Washington.
No que respeita aos automóveis, o texto refere o "reconhecimento mútuo" das normas de cada um. No entanto, o Conselho Europeu para a Segurança dos Transportes (ETSC) salienta que as normas de segurança são muito diferentes entre os automóveis europeus e norte-americanos.
"Dispomos agora [na UE] de tecnologias como a travagem automática de emergência, testes de proteção dos peões e sistemas de assistência à manutenção na faixa de rodagem", explica Dudley Curtis, diretor de comunicação do ETSC.
"Estes são apenas três exemplos de tecnologias que são obrigatórias na Europa, mas que não são obrigatórias nos EUA."
A travagem de emergência automatizada permite que o veículo trave automaticamente em caso de emergência se, por algum motivo, o condutor não conseguir parar o veículo.
A norma de proteção dos peões procura limitar a extensão de um acidente quando um peão é atingido por um automóvel e cai sobre o capot ou o para-brisas.
O Assistente de Manutenção na Faixa de Rodagem deteta marcas rodoviárias, tais como linhas brancas sólidas ou descontínuas. Este dispositivo avisa o condutor caso este ultrapasse involuntariamente a linha, ou até mesmo fá-lo regressar à sua faixa de rodagem.
Com este acordo comercial, Washington espera poder exportar mais veículos de marcas norte-americanas para a Europa.
Mensagem para os construtores
A outra preocupação da ONG é o efeito que este compromisso terá nos construtores europeus. Os diferentes construtores poderiam ser tentados a denunciar uma situação de concorrência desleal e a criticar a regulamentação europeia.
"Todos os outros fabricantes, japoneses, chineses, coreanos e europeus, que produzem na Europa, vão dizer: se eles [os Estados Unidos] têm de cumprir apenas a norma norte-americana e nós temos de cumprir a norma europeia, isso não é justo, vai criar uma concorrência desleal", adverte Dudley Curtis.
O risco, continua, é que "haja uma enorme pressão para baixar as normas europeias".
O Conselho Europeu para a Segurança dos Transportes salienta que não há perspetivas imediatas de mais SUVs ou pick-ups americanas nas estradas europeias. Há um processo político a seguir no seio da UE.
No entanto, Dudley Curtis salienta que "ao longo da última década ou mais, o número de mortes nas estradas dos Estados Unidos aumentou, enquanto na Europa diminuiu lentamente, mas continuou a diminuir".
Há uma série de fatores a ter em conta neste fenómeno, como o tipo de estrada, o comportamento dos condutores e os problemas de condução sob o efeito do álcool, mas as normas de segurança desempenham um papel importante nos resultados europeus.
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