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Instantes decisivos: como seria a UE de Mario Draghi

• Aug 27, 2025, 7:07 AM
16 min de lecture
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Talvez já tenha visto no LinkedIn ou nos títulos dos jornais: Mario Draghi voltou a falar.

Este é, afinal, o super poder do Super Mario: quando ele fala, as pessoas ouvem-no, reforçando a reputação de dizer coisas que interessam.

Na semana passada, as observações de Draghi num popular fórum italiano em Rimini foram especialmente incisivas em relação à atual trajetória da União Europeia. E é por isso que esta última intervenção é mais do que um simples discurso.

O timing também é relevante. Ursula von der Leyen, apenas passado um ano do segundo mandato como presidente da Comissão Europeia, já está a ser alvo de críticas.

Poucos em Bruxelas se esqueceram de que Draghi chegou a ser apontado como uma potencial alternativa para o cargo. Isto apesar de nunca ter entrado oficialmente na corrida.

No entanto, o antigo presidente do Banco Central Europeu, anteriormente apelidado de "feiticeiro" por frases como "custe o que custar", continua a lançar uma longa sombra sobre a Comissão.

Para von der Leyen, a sua presença permanece quase como um fantasma a assombrar este segundo mandato. E a questão mantém-se: e se Draghi tivesse tomado o seu lugar?

Tal como no filme "Instante Decisivos" (ou, para os cinéfilos, no seu antecessor artístico "A Dupla Vida de Véronique"), a União Europeia poderia ter-se desenrolado ao longo de duas linhas temporais diferentes.

Com base neste recente discurso de Draghi e no seu muito citado relatório, podemos imaginar uma presidência alternativa da Comissão Europeia sob a sua liderança...

Europa geopolítica (a sério)

Ursula von der Leyen recebe Mario Draghi no Berlaymont, a sede da Comissão Europeia, antes das eleições europeias de 2024.
Ursula von der Leyen recebe Mario Draghi no Berlaymont, a sede da Comissão Europeia, antes das eleições europeias de 2024. European Union

Bruxelas tem vindo a prometer um papel mais assertivo na cena mundial desde há uma década - Jean-Claude Juncker falou de uma "Comissão política", von der Leyen classificou o seu primeiro mandato de "geopolítico".

O veredito de Draghi? Continua a ser uma ilusão. A Ucrânia é o exemplo mais claro: a Europa pagou a maior fatura e tem o maior interesse numa paz justa, mas "até agora desempenhou apenas um papel bastante marginal nas negociações de paz", disse Draghi.

Sobre o Médio Oriente, acusou a União Europeia de ser "um espetador enquanto as instalações nucleares do Irão eram bombardeadas e o massacre em Gaza se intensificava" (repare-se na escolha de palavras sobre Gaza: von der Leyen nunca foi além de "situação humanitária catastrófica").

Draghi avisa que a ideia de que só a economia compra poder geopolítico está morta. A Europa tem de deixar de ser um "ator coadjuvante" e passar a ser um protagonista - o que, na linguagem de Draghi, significa reconfigurar a máquina política da União Europeia.

Instantes decisivos: Com Draghi ao leme, seria de esperar que a União Europeia falasse mais alto nas crises globais (aproveitando a sua estatura para elevar a voz da Europa). Mas também se esperariam maiores lutas dentro do bloco, com países alérgicos a uma maior integração política.

As tarifas americanas e uma nova ordem comercial

O acordo comercial assinado em julho no campo de golfe Trump Turnberry, em Turnberry, na Escócia, foi criticado por Mario Draghi.
O acordo comercial assinado em julho no campo de golfe Trump Turnberry, em Turnberry, na Escócia, foi criticado por Mario Draghi. AP Photo

No entanto, as palavras mais incisivas de Draghi foram guardadas para o comércio e para a cimeira de von der Leyen-Trump na Escócia. "Tivemos de nos resignar às tarifas impostas pelo nosso maior parceiro comercial e aliado de longa data", disse.

Este é mais um juízo de Draghi do que uma declaração clara sobre o que teria feito de diferente. Afinal, as negociações comerciais dependem muito da opinião dos Estados-membros.

Ainda assim, é difícil imaginar Draghi a voar para o campo de golfe de Trump e a apoiar publicamente a narrativa de desequilíbrio dos Estados Unidos, como fez von der Leyen. Na altura, von der Leyen reconheceu "um excedente do nosso lado e um défice do lado dos Estados Unidos", uma declaração que abriu caminho para o acordo assimétrico de 15% de tarifas entre Bruxelas e Washington.

O contraste vai para além do acordo com Trump, uma vez que von der Leyen continua a seguir as regras do jogo em matéria de comércio.

Num artigo de opinião (que parecia responder em parte ao discurso de Draghi), na semana passada, argumentou que as parcerias comerciais ajudariam a "trabalhar em desafios globais partilhados, incluindo a modernização do sistema comercial baseado em regras".

Draghi, pelo contrário, mostrou-se mais pessimista: os líderes da União Europeia, disse, "têm de conceber uma política comercial adequada a um mundo que está a abandonar as regras multilaterais".

Instantes decisivos: uma Comissão liderada por Draghi poderia ter adotado uma linha mais dura nas negociações comerciais transatlânticas - arriscando confrontos semelhantes aos do Canadá e da China com os Estados Unidos - e abraçado uma política comercial mais controversa, afastando-se potencialmente do multilateralismo ao estilo da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Competitividade virada do avesso

Mario Draghi e Ursula von der Leyen na apresentação do relatório sobre o futuro da competitividade europeia elaborado pelo antigo governador do Banco Central Europeu.
Mario Draghi e Ursula von der Leyen na apresentação do relatório sobre o futuro da competitividade europeia elaborado pelo antigo governador do Banco Central Europeu. European Union

Draghi continua a pairar em Bruxelas, não só como o fantasma do caminho não percorrido, mas também como o autor do relatório sobre a competitividade que a própria von der Leyen encomendou.

A divergência entre os dois sobre a competitividade é notável: para von der Leyen, esta pode ser alcançada, em grande parte, dentro dos quadros existentes, enquanto para Draghi, a Europa deve começar por reconhecer que o contexto global em que outrora prosperou desapareceu.

Em Rimini, Draghi foi muito direto: "Onde antes se confiava nos mercados para orientar a economia, hoje há políticas industriais radicais. Onde antes havia respeito pelas regras, agora há o uso da força militar e do poder económico para proteger os interesses nacionais".

E a Europa, argumentou o antigo primeiro-ministro italiano, está "mal equipada" para esta nova realidade, a menos que reequacione a sua máquina política e económica.

Em termos práticos, a visão de von der Leyen traduz-se em continuar a apostar no sector privado para garantir a competitividade, por exemplo.

Draghi discorda: as empresas europeias já se adaptaram, enquanto o setor público está atrasado. Os governos, na sua opinião, têm de dar um passo em frente, definir os sectores prioritários e, sobretudo, chegar a acordo sobre a forma de pagar os "investimentos maciços" que serão necessários.

Instantes decisivos: Um executivo da União Europeia de Draghi teria apoiado fortemente os governos (em vez de confiar apenas no orçamento da União Europeia) para financiar um relançamento da competitividade. Menos liberalismo de mercado, mais política industrial e um pedido muito mais difícil para as capitais da União Europeia.

Finalização do mercado interno, não apenas simplificação

Von der Leyen adora falar da burocracia como o principal obstáculo à competitividade da Europa. O seu segundo mandato já produziu "pacotes globais" destinados a reduzir as regras da União Europeia e a racionalizar a burocracia.

Draghi, no entanto, vê o problema de forma diferente. Em Rimini, lamentou "aquisições mais lentas, custos mais elevados" e "obstáculos que impomos a nós próprios", mas não apelou à desregulamentação.

A sua mensagem: deixem-se de remendos e terminem o trabalho, apelando à finalização do mercado interno do bloco.

"O Ato para o Mercado Único foi aprovado há quase quarenta anos e, no entanto, continuam a existir obstáculos significativos ao comércio na Europa. Eliminar estes obstáculos teria um impacto substancial no crescimento da Europa", afirmou Draghi.

Traduzindo: o problema da Europa não é o excesso de regras, mas sim o facto de o mercado único estar ainda meio construído.

Draghi instou ainda a União Europeia a experimentar novas formas de integração, como um "28º regime", semelhante à criação de um "Delaware europeu" para o registo de empresas.

Trata-se de um quadro empresarial pan-europeu opcional para reduzir a fragmentação e dar às empresas uma verdadeira sede continental. Bruxelas acenou com a ideia, e von der Leyen até a mencionou nas suas diretrizes políticas, mas ainda está "em estudo".

Instantes decisivos: Draghi teria feito da finalização do mercado único um projeto emblemático desde o primeiro dia, colocando os dossiês paralisados no centro das atenções, em vez de desmantelar as regras existentes sob a bandeira da simplificação.

Uma defesa europeia para os europeus

Um domínio em que Draghi e von der Leyen convergem é o da necessidade de reforçar a defesa da Europa.

Ambos querem mais despesa. Mas o enquadramento de Draghi é mais duro.

A linha central do seu discurso é que "a força económica é uma condição necessária, mas não suficiente, para a força geopolítica", afirmando que a ilusão de que o poder económico da Europa poderia, por si só, traduzir-se em influência na cena mundial "evaporou-se".

A defesa, deu a entender, é o que realmente importa.

E enquanto von der Leyen fala de mais dinheiro para os exércitos europeus, Draghi avisa que a pressão atual tem menos a ver com a visão estratégica da Europa do que com a pressão dos Estados Unidos.

"Também fomos pressionados por esse mesmo aliado a aumentar a despesa militar. Uma decisão que talvez devêssemos ter tomado de qualquer maneira, embora de formas e maneiras que provavelmente teriam refletido mais fielmente os interesses da própria Europa", disse.

Instantes decisivos: Sob Draghi, a União Europeia poderia ter adotado uma doutrina mais forte de autonomia estratégica também no domínio da defesa, aproximando-se da visão de Emmanuel Macron de que a Europa se deve dissociar da dependência dos Estados Unidos.


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