Elevador da Glória: CML quer novo sistema de funcionamento dos elevadores icónicos de Lisboa

Começou às 9h30 da manhã sem a presença de jornalistas. A Câmara Municipal de Lisboa esteve esta manhã reunida por causa do descarrilamento do elevador da Glória, que fez 16 vítimas mortais, sendo esse o único ponto da agenda de trabalhos. Além de todos os membros do executivo municipal, a reunião contou também com a presença do presidente da Carris, Pedro de Brito Bogas.

O encontro foi convocado pelo presidente da CML Carlos Moedas, mas foi o vice-presidente que deu as primeiras informações sobre o que esperar da reunião, nomeadamente as medidas preparadas pelo executivo camarário.

Filipe Anacoreta Correia informou que a Câmara Municipal pretende criar “um fundo de apoio municipal às vítimas” e ainda homenagear ao guarda-freio que morreu no acidente, dando o nome de André Marques a uma rua lisboeta. Numa "preocupação de homenagem e de reconhecimento" está também pensado um memorial coletivo.

O vice-presidente, que tem os pelouros da mobilidade e da Autoridade de Transportes, reforçou ainda que é preciso transparência e acesso à informação em todo o processo.

"Parece-nos também muito importante a questão da informação. Manter e criar um portal de transparência onde possamos disponibilizar toda a informação, todos os documentos que neste âmbito sejam solicitados -  e é normal que haja nesta altura a necessidade de muita informação e documentação - portanto, nós queremos estar a corresponder a esse pedido", afirmou.

Na sequência da reunião extraordinária, que durou várias horas, saiu a aprovação de 20 medidas relacionadas com a tragédia, onde se incluem aquelas enúmeradas pelo vice-presidente da autarquia, que salientou o consenso dos vereadores.

“Em grande medida, houve um esforço grande para que todas as propostas fossem aprovadas por unanimidade. Há uma ou outra que, por razões pontuais, pode merecer uma apreciação aqui, um voto contra ali”, acrescentou.

O pacote inclui assim várias diretivas, definidas diferentes âmbitos como apoio às vítimas e seus familiares, recomendações ao Conselho de Administração da Carris, operação dos elevadores, ascensores e funiculares, respostas municipais em matéria de segurança e comunicação, transparência e confiança pública.

Entre as propostas aprovadas está uma nova reunião extraordinária da CML, marcada para dia 16 de setembro com o objetivo de ouvir o Conselho de Administração da Carris.

CML quer novo sistema tecnológico para funcionamento dos elevadores da cidade

Entre as medidas que o executivo municipal viu hoje serem aprovadas está a criação de uma equipa para a conceção de um novo sistema tecnológico para o funcionamento dos elevadores, que dê "garantias inequívocas de segurança". 

"Finalmente, uma avaliação para o futuro, constituindo uma equipa para a conceção do novo sistema tecnológico deste elevador, envolvendo, se possível, a Ordem dos Engenheiros, o LNEC e haver a possibilidade de repensar também qualquer coisa que seja necessária para dar garantias inequívocas de segurança."

Se o icónico elevador irá voltar a funcionar como o conhecemos, ninguém sabe. Para já, só a segurança importa.

"Mas da parte da Câmara Municipal de Lisboa o que é inequívoco é que nós temos de garantir a segurança máxima e, portanto, sem que sejam dadas respostas inequívocas que tranquilizem toda a cidade e o país relativamente ao seu funcionamento é natural que nós não possamos avançar", expôs.

Anacoreta Correia garantiu que a reunião de hoje "não é o momento da análise política", mas sim para aprovar medidas de resposta, garantindo que o executivo camarário está "disponível para assumir as responsabilidades".

Além disso, o vice-presidente da Câmara diz que a autarquia está disponível para acolher sugestões da oposição.

Vereadores criticam postura de Moedas

Após uma pausa na reunião, o vereador do PS Pedro Anastácio confirmou que os vereadores do partido estão “disponíveis para fazer este esforço de entendimento” entre as propostas que até agora foram apresentadas, apesar de dizer que “ainda há muitos aspetos que é necessário esclarecer”.

Apesar da postura do partido, o vereador deixou críticas ao presidente da Câmara após a entrevista que este deu numa entrevista, no domingo, à SIC Notícias.

Carlos Moedas, que continua a recusar o cenário de demissão, utilizou o nome de Jorge Coelho, ex-ministro socialista, afirmando que este tinha conhecimento de "problemas de manutenção" na ponte de Entre-os Rios, o que terá motivado a sua demissão do Governo, em 2001. Anastácio considerou o argumento de Moedas "insultuoso e inaceitável” para com “a memória de uma pessoa falecida que não tem condições de se defender”.

O porta-voz do Livre, Rui Tavares também criticou a entrevista do autarca, nomedamente o "timing" da mesma.

“O presidente da Câmara ontem, num dia no qual os partidos tinham desmarcado congressos para respeitar um período de reflexão, decidiu ir a uma televisão dar uma entrevista e abrir — ainda antes de debater com os vereadores —, uma controvérsia política, colocando a assunção de responsabilidades num lugar onde não deve ser colocada”, afirmou aos jornalistas o também vereador da CM de Lisboa.

Sobre a reunião diz que ficou claro que existem problemas claros com segurança

"O que ficámos a saber é que um dos meios de transporte icónicos da cidade de Lisboa, estava, segundo a Carris, “seguríssimo” — bem isto significa que há matéria de segurança que não está a ser seguida como deve ser", afirmou Rui Tavares.

Pelo PCP, partido que solicitou a realização desta reunião extraordinária, João Ferreira reforçou que “ainda não se dissiparam todas as dúvidas” relativas ao acidente. Citado pelo jornal Observador, indica que o partido é favorável em "reforçar as condições de inspeção e de manutenção” dos elétricos clássicos da Carris, defendendo ainda uma possível "internalização do serviço de manutenção da Carris".

Chega apresenta moção de censura a Carlos Moedas

O partido Chega entregou na Assembleia Municipal de Lisboa uma moção de censura a Carlos Moedas.

O "presidente da Câmara Municipal de Lisboa falhou no seu dever mais elementar: garantir a segurança da cidade e proteger a vida de quem nela habita, trabalha e visita. Não basta celebrar contratos de concessão: é preciso fiscalizar, agir preventivamente e assumir responsabilidades. Nada disso foi feito", considerou o grupo municipal do Chega na moção de censura a Moedas.

A exploração e manutenção do equipamento que liga o Bairro Alto à Praça dos Restauradores é da Carris, empresa detida a 100% pela câmara, "mas a superintendência, a fiscalização e a tutela política pertencem ao presidente da câmara" e executivo, é possível ler na moção, citada pela agência Lusa.

Alexandra Leitão: “Tivemos 96 horas de inação de Moedas"

Sem consequências políticas, pelo menos para já, o tema não deixa de aquecer o debate, principalmente devido à proximidade das eleições autárquicas. Alexandra Leitão, candidata socialista à Câmara Municipal de Lisboa, condenou a atuação ou, nas suas palavras, “inação” do atual presidente da Câmara.

“Na sequência da tragédia, tivemos 96 horas de inação do presidente da CML. Não convocou o executivo que reuniu hoje por proposta de outro partido [o PCP]. Foi para o Conselho de Ministros não se percebe bem fazer o quê. Não falou, tirando ontem, aos lisboetas. E quando falou aos lisboetas foi para insultar e não para dar soluções”, afirmou a candidata.

Durante a sua entrevista, Carlos Moedas falou "em aproveitamento político" do caso e acusou Alexandra Leitão de "encarregar os seus sicários, como Pedro Nuno Santos e Brilhante Dias" de pedir a sua demissão. Algo que a candidata recusa, afirmando que nunca pediu a demissão do autarca.

“Eu não exigi nunca, com os dados que temos, a admissão do engenheiro Carlos Moedas. E não o farei agora aqui, assim como não anteciparei cenários que espero nunca aconteçam quando eu for presidente da Câmara Municipal de Lisboa" afirmou a candidata socialista, que reforçou que pedir mais esclarecimentos e o apuramento de responsabilidades".