Itália pronta para reconhecer Palestina sob duas condições, afirma a primeira-ministra Meloni

O governo de direita de Itália está pronto para reconhecer o Estado da Palestina, embora sob certas condições, depois de vários outros Estados-membros da UE terem tomado essa decisão esta semana.
A primeira-ministra, Giorgia Meloni, anunciou na terça-feira à noite que os partidos que formam o seu governo apresentarão uma moção a pedir o reconhecimento da Palestina no parlamento italiano, sujeito a duas condições: a libertação dos reféns capturados pelo Hamas durante os ataques de 7 de outubro de 2023 e a exclusão do Hamas de qualquer envolvimento num futuro governo palestiniano.
"Não sou contra o reconhecimento da Palestina, mas precisamos de nos concentrar nas prioridades certas", disse Meloni. A decisão reflete as tomadas pela Bélgica e por França, mesmo nas suas condições, e marca uma mudança significativa na postura de Meloni, que estava em desacordo com a opinião pública italiana, o que desencadeou uma onda de protestos nas cidades italianas.
Italianos preocupados com Gaza
Na segunda-feira, decorreu uma greve geral nacional em Itália, envolvendo cerca de 500 mil pessoas, em resposta ao "genocídio em curso na Faixa de Gaza, ao bloqueio da ajuda humanitária pelo exército israelita e às ameaças contra a missão internacional da Flotilha Global Sumud", conforme declarado pela federação sindical USB.
O reconhecimento da Palestina foi uma das reivindicações do chamado "Movimento pró-Palestina", um grupo de organizações da sociedade civil, sindicatos de base e associações de cidadãos ad hoc.
O movimento uniu-se para exigir mais pressão sobre Israel, para que pare a guerra, e a proibição da exportação de armas e componentes militares de Itália para Israel.
De acordo com um estudo recente, 40,6% dos italianos são a favor do reconhecimento de um Estado palestiniano totalmente soberano, enquanto 21,9% dos inquiridos preferem que seja estabelecida uma administração internacional temporária.
Outra análise realizada pelo projeto italiano YouTrend destacou a desconfiança dos italianos em relação às ações de Israel após os ataques do Hamas a 7 de outubro de 2023.
Entre os inquiridos, 60% consideraram que Israel "deveria retirar-se de todos os territórios ocupados na Cisjordânia"; 63% que Telavive "está a cometer um genocídio na Faixa de Gaza"; 64% acreditavam que os israelitas "oprimem e discriminam sistematicamente o povo palestiniano" e 65% consideraram as reações de Israel aos ataques do Hamas "desproporcionadas" e "visando principalmente civis inocentes".
Mudança gradual da posição de Giorgia Meloni em relação à Palestina
De acordo com Lorenzo Pregliasco, sócio fundador do YouTrend, o início de 2025 marcou uma viragem na opinião pública italiana. Até mesmo os eleitores de partidos políticos mais próximos de Israel — como o Fratelli d'Italia, de direita, ou o Forza Italia, de centro-direita — começaram a criticar as ações do governo israelita.
"Penso que a ampla cobertura mediática da guerra em Gaza, ilustrando as questões humanitárias na Faixa, realmente tocou as pessoas que não tinham uma opinião forte sobre o assunto", explicou Pregliasco à Euronews, numa entrevista.
Na sua opinião, isso também provocou uma mudança gradual na posição do governo de Giorgia Meloni. "É claro que eles não querem ter uma abordagem radical, como os partidos de esquerda têm. Mas notei uma evolução clara, especialmente com as recentes críticas fortes à guerra, à invasão terrestre de Gaza, às consequências humanitárias dos bombardeamentos israelitas", acrescentou.
As críticas a Israel e a defesa dos palestinianos há muito caracterizam os partidos de esquerda italianos, mas, atualmente, Pregliasco vê menos diferenças entre as posições do governo e da oposição sobre a questão.
Meloni ainda se recusa a rotular a ação militar israelita em Gaza como "genocídio", o que os partidos de esquerda geralmente fazem. Mas a primeira-ministra cedeu no reconhecimento da Palestina, após vários meses em que se recusou a fazê-lo.
Apenas um dia antes do anúncio de Meloni, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, Antonio Tajani, afirmou que "não existe atualmente um Estado palestiniano e, por isso, não pode ser reconhecido".
"Antes de reconhecê-lo, é necessário construir um Estado. Não podemos dar um presente ao Hamas", afirmou aos jornalistas, à margem da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque.
Embora Itália sempre tenha sido a favor da "solução de dois Estados", o anúncio de Meloni representa uma mudança radical, provavelmente impulsionada pela opinião pública interna sobre o tema.
Today