Europa precisa de um "sentido de urgência" em matéria de defesa, afirma ministro da Defesa finlandês

O ministro da Defesa finlandês, Antti Häkkänen, afirma que a Europa está numa corrida contra o tempo para melhorar as suas capacidades de defesa e construir o chamado "muro de drones", para fazer face a um número crescente de incursões, que se crê virem da Rússia.
"Quando a Rússia estava a ficar sem mísseis, começou a produzir muitos drones, o que alterou o panorama da ameaça", afirmou Häkkänen.
A Europa enfrenta uma série de problemas devido à onda de violações do espaço aéreo por parte da Rússia, que levou à entrada de drones em países como a Polónia e a Dinamarca.
Häkkänen salientou as enormes despesas para os desativar e o perigo que representam para a população se forem abatidos em zonas civis.
"Todos têm o desafio de combater as ameaças dos drones de uma forma económica e sem demasiados danos colaterais, especialmente se acontecerem perto do aeroporto", explicou.
"É um desafio enorme lançar um drone numa zona civil sem danos colaterais, utilizando toda a força militar com uma guerra de espetro total", afirmou.
Häkkänen afirmou que a Rússia irá sempre explorar a fraqueza, especialmente se a Europa e o Ocidente estiverem "desarticulados e despreparados".
"Sabemos que, ao longo da história, a Rússia sempre atuou de forma agressiva quando vê uma janela de oportunidade", afirmou.
"Se acreditarem que o Ocidente está um pouco fraco e politicamente um pouco desorganizado, talvez não esteja em boa forma em termos de defesa, e pensarem que têm uma oportunidade de conquistar mais terreno", fá-lo-ão, salientou.
"Foi isso que pensaram em 2014 e em 2022", disse.
2014 refere-se à anexação ilegal da Península da Crimeia pela Rússia, enquanto 2022 é o ano em que a Rússia lançou a invasão total do país, uma guerra que continua até aos dias de hoje.
"Para evitar essa ameaça, os europeus devem acelerar os investimentos. Investimentos efetivos. É preciso haver um sentido de urgência", aconselhou.
O que é o muro de drones?
Apoiado pela Comissão Europeia, o muro de drones pretende combinar sistemas de deteção e ataque que deverão estender-se ao longo das fronteiras de pelo menos 10 países, incluindo Finlândia, Estónia, Letónia, Lituânia e Polónia.
"O muro de drones não é um muro, mas sim um sistema de sistemas", disse à Euronews Sven Kruck, co-CEO do fabricante alemão de drones Quantum Systems.
"Reconhecimento, fusão de sensores e defesa, integrados ao longo de milhares de quilómetros", explicou Kruck, acrescentando que "no seu cerne, o projeto é uma rede de sensores e sistemas de defesa destinados a proteger o flanco oriental da NATO".
É uma peça central do plano de defesa da Europa para os próximos anos, mas já houve desacordos sobre o tempo necessário para estar operacional.
Evika Siliņa, primeira-ministra da Letónia, por exemplo, disse aos jornalistas que acredita que um muro de drones ao longo do flanco oriental poderia ser "viável" dentro de "um ano, ano e meio".
Isto contradiz diretamente os comentários feitos no início desta semana, no Fórum de Segurança de Varsóvia, pelo ministro da Defesa alemão Boris Pistorius, para quem um projeto deste tipo não seria "concretizado nos próximos três ou quatro anos".
Seja qual for o calendário, tanto a Europa como a NATO suspeitam fortemente que a Rússia está por detrás da recente vaga de violações do espaço aéreo, como parte da sua guerra híbrida que inclui a disseminação de desinformação e ciberataques.
Despesas com a defesa
Häkkänen afirma que a NATO precisa de começar "imediatamente" a implementar o compromisso de gastar até 5% do PIB na defesa, no mais curto espaço de tempo possível.
Todos os 32 aliados da NATO concordaram em aumentar a despesa com a defesa de 2% para 5% do PIB na cimeira da NATO em Haia, em julho, a pedido do presidente dos EUA, Donald Trump.
O valor de 5% é dividido em 3,5% para as despesas essenciais de defesa e 1,5% para "despesas relacionadas com a defesa e a segurança".
"Esperamos que o novo compromisso da NATO com a despesa de 3,5-5% esteja a acelerar rapidamente", afirmou.
"O acordo da NATO previa que os países deveriam estar totalmente preparados para uma despesa de 3,5% em 10 anos. Não, não, têm de começar imediatamente", alertou Häkkänen.
Häkkänen é ministro da defesa de um dos mais recentes países membros da NATO. Em resposta à invasão em grande escala da Ucrânia, a Finlândia e a Suécia abandonaram décadas de neutralidade e apresentaram conjuntamente pedidos de adesão à aliança.
A Finlândia aderiu oficialmente em abril de 2023 e a Suécia no início do ano seguinte.
"A defesa coletiva da NATO tem algumas lacunas. Essas lacunas têm de ser colmatadas rapidamente", afirmou.
A administração Trump tem dito repetidamente à Europa que as suas prioridades de defesa estão em casa e que já não se pode confiar em Washington para garantir a segurança europeia.
Washington também suspendeu os pacotes de ajuda militar à Ucrânia, embora se espere que os EUA anunciem um acordo substancial sobre a compra de armas potencialmente de longo alcance que serão pagas pela Europa.
No entanto, trata-se de um desvio acentuado em relação à administração Biden, quando o Congresso aprovou mais de 40 mil milhões de dólares em ajuda militar num único pacote.
"Os Estados Unidos dizem que estão a deslocar o equilíbrio para a zona do Indo-Pacífico e para a sua segurança interna", explica Häkkänen.
"E estamos a ver os resultados. Os europeus têm de pagar a sua quota-parte e comprar o equipamento necessário para colmatar as lacunas dos Estados Unidos", disse à Euronews.