Gisèle Pelicot regressa ao tribunal para recurso de alegado violador

Gisèle Pelicot foi recebida com aplausos quando regressou ao tribunal na segunda-feira para o recurso de um homem condenado por a ter violado.
Husamettin Dogan foi um dos 51 homens condenados em dezembron, num julgamento coletivo que abalou França no ano passado, por ter agredido sexualmente Pelicot entre 2011 e 2020, enquanto ela estava drogada. É o único que recorreu da sentença.
Dogan, que foi condenado a nove anos de prisão, nega ter tido a intenção de violar Pelicot.
Argumenta que foi enganado por Dominique Pelicot - o ex-marido de Gisèle Pelicot - que drogou a mulher e a ofereceu a estranhos na Internet antes de filmar as agressões.
O trabalhador da construção civil, de 44 anos, foi a julgamento na segunda-feira em Nimes, no sul de França, sob a acusação de violação agravada pela administração de substâncias que prejudicam o discernimento ou o autocontrolo. Este crime pode dar origem a uma pena de prisão até 20 anos.
Dogan continua em liberdade enquanto aguarda o veredito. No primeiro julgamento, os procuradores pediram 12 anos de prisão, mas o tribunal impôs nove.
No dia de abertura do julgamento de recurso, Dogan disse que "nunca quis violar esta senhora, que eu respeito", acrescentando que "nunca soube que ela estava drogada".
Atenção mundial
No processo original, Dominique Pelicot foi condenado a 20 anos de prisão, enquanto as penas dos outros arguidos variaram entre três e 15 anos de prisão.
O julgamento atraiu atenção internacional depois de Gisèle Pelicot ter renunciado ao seu direito ao anonimato. O tribunal apoiou-a, apesar de vários arguidos terem exigido uma audiência à porta fechada. As provas incluíam vídeos caseiros dos abusos que Dominique Pelicot filmou na casa do casal na pequena cidade provençal de Mazan e noutros locais.
"Não tenho nada de que me envergonhar. A vergonha tem de mudar de lado", disse no dia da abertura do julgamento. Após o veredito, declarou que "nunca se arrependeu dessa decisão" e agradeceu aos apoiantes que lhe deram "força" para regressar todos os dias ao tribunal.
Dominique Pelicot admitiu o seu papel e não recorreu da sentença de 20 anos de prisão. Espera-se que testemunhe durante a audiência de recurso, depois de ter sido implicado por Dogan.
Dos 51 homens condenados, 17 apresentaram inicialmente recursos. A maior parte destes foram retirados e apenas Dogan deu seguimento.
Enquanto o julgamento do ano passado se prolongou por quatro meses, o novo julgamento não deverá durar mais do que quatro dias, com um veredito esperado para quinta-feira.
Na segunda-feira, Gisèle Pelicot entrou no tribunal sob escolta policial, sorrindo enquanto apertava a mão aos apoiantes que lhe expressaram a sua gratidão e encorajamento.
Para novembro, está previsto um processo cível em Avignon para resolver as indemnizações devidas à vítima principal e à família, que serão pagas conjuntamente pelos condenados.
Pelicot tornou-se, desde então, um símbolo da luta contra a violência sexual. Este caso chocante desencadeou uma reflexão nacional sobre a chamada "cultura da violação" em França.
Em julho, Pelicot recebeu a mais alta condecoração francesa, tendo sido nomeada Cavaleira da Legião de Honra antes do Dia da Bastilha.
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