"Putin não queria que a Ucrânia existisse", Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia
O presidente russo, Vladimir Putin, descreveu a Ucrânia como um "país artificial criado pela CIA e pela Comissão Europeia" e não queria que existisse, disse o antigo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, numa entrevista exclusiva à Euronews.
Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia entre 2004 e 2014, afirmou que Putin lhe disse que tinha como objetivo "impedir que a Ucrânia se tornasse um estado totalmente independente".
Segundo o ex-presidente, a intenção de Putin é que a Ucrânia permaneça na órbita do Kremlin como um estado satélite, semelhante à Bielorrússia.
"Sei-o porque discuti esse assunto com ele", disse.
"Ele não quer que a Ucrânia exista ou, se existir, quer que seja uma espécie de Bielorrússia, sem qualquer independência em termos de política externa ou em termos de defesa, para que funcione como um estado subordinado. É esse o objetivo de Putin", afirmou.
"Putin é o líder fora da Europa com quem mais reuni durante os meus dez anos de mandato. Reuni com ele 25 vezes. Sei o que pensa. Sei-o", disse o antigo presidente português da Comissão Europeia.
A primeira incursão de Putin na Crimeia e na Geórgia, assim como os assassinatos da jornalista Anna Politkovskaya e do ex-espião russo Alexander Litvinenko, ligados ao Kremlin, ocorreram durante o mandato de Durão Barroso.
Na altura, os países europeus consideraram a invasão e a anexação da Crimeia como um "caso particular".
Durão Barroso disse acreditar que a Crimeia nunca irá voltar a ficar sob controlo ucraniano como parte de quaisquer futuras negociações para acabar com a guerra.
"A opinião geral, ou dos governos europeus, é que a Crimeia é um caso particular. É por isso que hoje, honestamente, ninguém acredita que a Ucrânia a vá recuperar. A realidade é essa", afirmou.
De acordo com Durão Barroso, que também foi primeiro-ministro de Portugal, os Estados-Membros da UE mostraram-se reticentes quanto à imposição de sanções fortes devido a preocupações económicas internas, apesar dos avisos sérios sobre as intenções de Putin.
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