Cimeira "Grãos da Ucrânia": 321 instalações portuárias ucranianas foram danificadas pela guerra

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, afirmou que 321 instalações portuárias foram danificadas por ataques de drones e mísseis russos desde julho passado, o que poderá prejudicar a capacidade da Ucrânia de exportar os seus cereais para países de todo o mundo.

"As exportações ucranianas de produtos alimentares fornecem alimentos a 400 milhões de pessoas em 100 países em todo o mundo. Os preços dos alimentos no Egito, na Líbia, na Nigéria e noutros países africanos dependem diretamente da capacidade de funcionamento normal dos agricultores e das empresas agrícolas ucranianas", afirmou Zelenskyy.

"É por isso que é tão importante que continuemos unidos na proteção da segurança alimentar, da segurança das rotas, dos abastecimentos, dos alimentos e de outros bens de exportação essenciais".

Zelenskyy falava na terceira cimeira Grain from Ukraine (Grãos da Ucrânia) em Kiev, um programa alimentar humanitário lançado por Zelenskyy em 2022.

O objetivo do programa é realçar o papel da Ucrânia como membro responsável da comunidade mundial e contrariar a propaganda russa que culpa a Ucrânia e os seus parceiros ocidentais pela crise alimentar.

"Destruir a capacidade da Ucrânia de fornecer cereais significa que milhões de pessoas ficam sem alimentos. Ninguém pode fechar os olhos e fingir que isto não lhe diz respeito. A segurança alimentar mundial está a ser atacada e ignorá-la só irá agravar a crise. Esta guerra é uma questão global e exige uma resposta global", afirmou o Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Checa, Jan Lipavský.

O celeiro da Europa

A Ucrânia, conhecida como o celeiro da Europa, é um importante fornecedor mundial de cereais e, antes da invasão russa, exportava regularmente cerca de seis milhões de toneladas de cereais por mês a partir dos seus portos do Mar Negro.

Quando a Rússia invadiu o país, em fevereiro de 2022, bloqueou os portos do Mar Negro e as exportações de cereais entraram em colapso, provocando uma crise global de segurança alimentar.

Mas em julho de 2022, os envios de cereais foram retomados ao abrigo da Iniciativa para os Cereais do Mar Negro, um acordo mediado pelas Nações Unidas e pela Turquia.

Mas esse sucesso foi de curta duração, com a Rússia a sair do pacto um ano depois, alegando que as disposições do acordo que abrangiam as suas próprias exportações de cereais e fertilizantes não estavam a ser honradas.

Desde então, a Ucrânia tem continuado a exportar cereais ao longo do seu próprio corredor marítimo, criado em julho de 2023.

Este corredor atravessa as águas territoriais da Turquia, Bulgária e Roménia, mas os danos causados às infraestruturas portuárias pela guerra em curso na região do Mar Negro suscitaram preocupações quanto à eficácia do transporte de cereais pela Ucrânia.

A Rússia tem negado repetidamente ter lançado ataques contra qualquer infraestrutura civil na Ucrânia.

"Para escravizar a Ucrânia e destruir a ordem mundial existente, o regime de Putin, à semelhança do regime totalitário estalinista, assumiu a causa dos cereais ucranianos. Putin transformou a ameaça de fome numa arma, procurando causar uma crise alimentar e fome a nível mundial", disse o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Andrii Sybiha.

"A invasão militar da Ucrânia, a chantagem energética da Europa e o bloqueio dos cereais no Sul do mundo, especialmente em África, faziam e fazem parte do plano russo".

O ministro checo dos Negócios Estrangeiros foi o único representante estrangeiro a participar pessoalmente na cimeira, mas muitos outros compareceram por videochamada.

O Presidente da Estónia, Alar Karis, afirmou que a guerra agressiva da Rússia é também uma guerra contra milhões de pessoas em todo o mundo que não têm comida suficiente.

A Presidente da Suíça, Viola Amherst, afirmou que a iniciativa dos cereais é uma demonstração da força da solidariedade dos ucranianos.

Mas os dados dos comerciantes e do governo ucraniano mostram que as exportações de cereais da Ucrânia na época 2024/2025 ascenderam a quase 16 milhões de toneladas métricas, contra 11 milhões de toneladas no mesmo período do ano anterior.