Assinatura do Mercosul adiada para janeiro depois de Meloni ter pedido mais tempo
Após tensas negociações entre os 27 Estados-membros, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, adiou para janeiro a assinatura do controverso acordo com o Mercosul, para frustração dos seus apoiantes, Alemanha e Espanha.
O acordo comercial dominou a cimeira da UE, com França e Itália a insistirem num adiamento para garantirem uma maior proteção dos agricultores, enquanto von der Leyen esperava viajar para a América Latina a fim de participar numa cerimónia de assinatura agendada para 20 de dezembro, depois de ter garantido o apoio dos Estados-membros.
Sem aprovação, a cerimónia já não se poderá realizar. A nova data ainda não foi fixada.
"A Comissão propôs adiar a assinatura para o início de janeiro, a fim de continuar a discutir com os países que ainda precisam de mais tempo", disse um funcionário da UE aos jornalistas.
Após uma conversa telefónica com o presidente brasileiro, Lula da Silva, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, declarou apoiar o acordo, mas acrescentou que Roma ainda precisa de garantias mais fortes para os agricultores italianos. Lula afirmou, noutros comentários, que Meloni lhe garantiu que o acordo comercial seria aprovado nos próximos 10 a 30 dias.
O acordo do Mercosul criaria uma zona de comércio livre entre a União Europeia e a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai. No entanto, os agricultores europeus receiam que o acordo os exponha à concorrência desleal das importações latino-americanas em termos de preços e práticas.
Decisão de Meloni foi fundamental para o atraso
"O governo italiano está pronto para assinar o acordo assim que forem dadas as respostas necessárias aos agricultores. A assinatura do acordo dependerá das decisões da Comissão Europeia e poderá ser definida num curto espaço de tempo", disse Meloni, após ter falado com Lula, que ameaçou abandonar o acordo se não houver um entendimento este mês. Por seu turno, o presidente da República mostrou-se mais conciliador após a conversa com Meloni.
As conversações entre os líderes da UE foram difíceis, dado que os defensores do acordo — concluído em 2024, após 25 anos de negociações — argumentaram que o Mercosul é imperativo, visto o bloco necessitar de novos mercados numa altura em que os EUA, o seu maior parceiro comercial, prosseguem uma política tarifária agressiva. Os direitos aduaneiros sobre as exportações europeias para os EUA triplicaram durante a presidência de Donald Trump.
"Esta é uma das cimeiras mais difíceis da UE desde a última negociação do orçamento de longo prazo, há dois anos", declarou um diplomata da UE.
França começou a pressionar no domingo passado para um adiamento da votação, no meio da raiva dos agricultores.
Paris há muito que se opõe ao acordo, exigindo salvaguardas sólidas para os agricultores e reciprocidade em matéria de normas ambientais e sanitárias de produção com os países do Mercosul.
O acordo requer uma maioria qualificada para ser aprovado. França, Polónia e Hungria opõem-se à assinatura, enquanto Áustria e Bélgica tencionam abster-se se a votação se realizar esta semana. A Irlanda também manifestou preocupações quanto à proteção dos agricultores. A posição de Itália foi fundamental.
No entanto, os apoiantes do acordo receiam agora que uma hesitação prolongada possa levar os países do Mercosul a abandonarem definitivamente o acordo após décadas de negociações.
Depois de ter falado com Meloni, Lula disse que iria transmitir o pedido da Itália ao Mercosul para que este possa "decidir o que fazer".
Um funcionário da UE disse que os contactos com o Mercosul estavam "em curso", acrescentando: "Precisamos de ter a certeza de que tudo é aceite por eles".
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