Depressão Cláudia: casal de idosos morre em casa inundada em Fernão Ferro
Um casal de idosos de 88 anos morreu na própria casa na manhã desta quinta-feira em Fernão Ferro, no concelho do Seixal, devido às inundações causadas pela chuva intensa.
As vítimas ficaram encurraladas e não conseguiram escapar à subida repentina da água no rés-do-chão da moradia situada numa zona baixa da freguesia, confirmou à Euronews Carlos Correia, do Comando Territorial de Setúbal da GNR.
O casal estaria a dormir e não se terá apercebido da inundação que chegou ao nível das janelas. As circunstâncias em que se deu a morte estão sob investigação.
Foi feita uma chamada de emergência por volta das 9H15, provavelmente através dos vizinhos, adiantou à Euronews a mesma fonte da GNR. Quando os meios de socorro chegaram ao local, arrombaram as janelas e a porta de casa, encontrando os corpos a boiar, já sem vida.
O casal morava sozinho e o botão de SOS de que dispunha não chegou a ser acionado. Os cadáveres já foram retirados do local.
Casa era ilegal
A habitação onde ocorreu a tragédia encontra-se em zona de construção ilegal, confirmou Joaquim Tavares, vereador da Proteção Civil da Câmara Municipal do Seixal em declarações aos jornalistas no local. Trata-se da chamada "área urbana de génese ilegal".
"Estão a ser analisadas soluções para que estas casas possam ser desativadas", declarou.
"Temos vindo a tentar que Fernão Ferro seja uma zona legalizada, mas ainda temos muitas habitações que não obedecem a critérios de segurança", afirmou Rui Pereira, presidente da Junta de Freguesia de Fernão Ferro, em declarações à SIC Notícias, lembrando que essa área "alaga constantemente".
"Fernão Ferro fica isolada sempre que chove bastante. A Junta de Freguesia tem procurado pressionar o governo e a Infraestruturas de Portugal para que esta situação seja contornada. Isto ocorre de ano para ano e com cada vez mais intensidade. Também há cada vez menos limpeza nas valas", acrescentou.
Montenegro expressa "profunda tristeza"
O primeiro-ministro Luís Montenegro já reagiu à morte do casal de idosos de Fernão Ferro numa mensagem publicada na rede social X, manifestando "profunda tristeza" pela tragédia.
"Não há palavras que consolem a angústia do momento", escreveu o chefe do governo, que endereçou "sentidas condolências" em nome pessoal e do executivo aos familiares e amigos das vítimas.
Mais de mil ocorrências
O mau tempo tem assolado vários pontos de Portugal, e entre a meia-noite e as 13:00 desta quinta-feira foram registadas cerca de 1.300 ocorrências, 784 das quais nas últimas quatro horas, período de "maior incidência", segundo o mais recente balanço feito pelo comandante da Proteção Civil.
A depressão Cláudia fez igualmente nove deslocados e um ferido.
Na cidade de Lisboa, entre as 09:00 de quarta-feira e as 08:00 desta quinta-feira, há nota de 77 ocorrências resultantes da depressão Cláudia, nomeadamente inundações, acidentes rodoviários e queda de árvores, avança a Câmara Municipal na rede social Facebook.
Na Península de Setúbal, há registo de mais de 200 ocorrências desde as 05h00, incluindo algamentos e quedas de árvores. No Montijo e em Sesimbra, foram encerradas escolas.
Cerca de 13 mil clientes estão sem eletricidade nos distritos de Lisboa, Santarém e Setúbal, uma situação que, ainda assim, representa uma melhoria em relação ao que se verificava às 8:00, quando cerca de 20 mil clientes estavam sem energia, oito mil deles só no distrito de Setúbal. A E-REDES afirma que tem equipas "em vigilância permanente e mobilizadas no terreno" para restabelecer as ligações.
O temporal também levou ao encerramento de 14 barras marítimas, com quatro delas condicionadas à navegação.