Canadá vira-se para a Europa: segue-se participação no Festival Eurovisão da Canção?
Apesar de muitos artistas canadianos terem passado pela Eurovisão, com destaque para Céline Dion, que venceu em 1988 pela Suíça, o Canadá nunca participou no maior evento musical do mundo. Mas isso pode estar prestes a mudar.
O orçamento federal do Canadá, divulgado a 4 de novembro, refere que o governo está a trabalhar com a emissora pública nacional numa candidatura para aderir ao Festival Eurovisão da Canção.
O país norte-americano já tinha ponderado participar, mas a Canadian Broadcasting Corporation (CBC), membro associado da União Europeia de Radiodifusão (UER), que organiza a Eurovisão, afirmou em 2022 que tinha “afastado” a ideia, por a considerar “proibitiva em termos de custos”.
Ainda assim, o orçamento prevê um aumento de financiamento de 150 milhões de dólares para a CBC/Radio-Canada e destina também 400 milhões de dólares a várias organizações e fundos culturais.
O momento também está longe de ser inocente, tendo em conta que Donald Trump impôs tarifas ao Canadá. No mês passado, Trump disse que estava a acrescentar 10 por cento às tarifas dos EUA sobre bens importados do Canadá, depois de a província de Ontário ter transmitido um anúncio contra as tarifas com Ronald Reagan.
A administração de Trump já tinha imposto uma taxa de 35 por cento sobre todos os bens canadianos, incluindo 50 por cento sobre metais e 25 por cento sobre automóveis.
Primeiro-ministro Mark Carney disse, em resposta, que o Canadá estava preparado “para continuar a construir sobre os progressos que vinha a fazer” nas negociações comerciais, e acrescentou que estava a desenvolver relações comerciais com outros países.
Na verdade, as ações de Trump precipitaram a vontade do governo canadiano de aprofundar alianças com a Europa, e uma inclusão na Eurovisão pode ser um passo para se afastar ainda mais dos EUA.
Carney fez questão de visitar França e o Reino Unido em março, na primeira deslocação ao estrangeiro como primeiro-ministro, declarando que o Canadá é “o mais europeu dos países não europeus”.
Sobre a inclusão do Canadá na Eurovisão, François-Philippe Champagne, ministro das Finanças, disse ao Global News que o concurso é “uma plataforma para o Canadá brilhar.”
“Isto tem que ver com proteger a nossa identidade; sim, queremos proteger a soberania, mas também queremos ajudar as pessoas no setor das artes e na indústria do cinema a garantirem que podem brilhar pelo mundo. E temos muito para oferecer enquanto canadianos.”
Na quarta-feira, o diretor do Festival Eurovisão da Canção, Martin Green, emitiu a seguinte declaração: “As conversações com a CBC/Radio-Canada estão numa fase muito inicial e esperamos continuar as discussões com eles.”
Acrescentou: “É sempre encorajador saber que as emissoras querem fazer parte do maior espetáculo musical ao vivo do mundo.”
A viragem do Canadá para a Europa pode seguir o exemplo da Austrália, que se juntou à Eurovisão em 2015 após um convite especial da UER, apesar de estar fora da Área Europeia de Radiodifusão.
Apesar disso, não se espere uma nova inclusão confirmada tão cedo, já que a Eurovisão está, neste momento, a tentar evitar que o concurso entre em rutura.
Tem havido muita discordância interna sobre quem deve poder participar na competição. A participação de Israel tem sido fonte de muita polémica nos últimos meses.
Várias emissoras europeias, incluindo Irlanda, Países Baixos e Eslovénia, ameaçaram retirar-se da competição do próximo ano, a menos que a KAN, emissora israelita, seja impedida de participar.
Os organizadores tinham agendado uma votação para este mês sobre se Israel deveria ser autorizado a competir na edição do 70.º aniversário da Eurovisão, em Viena, Áustria, em maio de 2026. A votação foi entretanto adiada.
“Portanto, neste momento, ampliar a Eurovisão não é a principal prioridade da União Europeia de Radiodifusão; está a tentar salvar o concurso tal como está”, disse ao Global News Dean Vuletic, historiador do Festival Eurovisão da Canção.
Vuletic acrescentou, no entanto, que não ficou surpreendido por o orçamento canadiano incluir uma referência ao concurso.
“O Canadá é um país próximo da Europa, culturalmente e politicamente, sobretudo dos países da União Europeia”, disse. “Falamos dos Estados-membros da UE que são o núcleo da Eurovisão e são esses com quem o Canadá procura estreitar laços, tendo em conta a situação atual no mundo.”