Em Lisboa, Verdes Europeus defendem ação na habitação e solidarizam-se com a greve geral
Os Verdes Europeus reuniram-se em Lisboa para definir a estratégia dos próximos meses e anos. A agenda climática perdeu protagonismo e agora o grupo da esquerda progressista quer posicionar-se como a última resistência contra o retrocesso democrático na Europa.
No arranque do segundo dia do 40.º Congresso, os co-presidentes do grupo dos partidos ecologistas europeus lançaram uma forte advertência sobre a cooperação aberta do Partido Popular Europeu (PPE) com a extrema-direita.
"O PPE de Manfred Weber não está mais apenas a flertar com a extrema-direita, está a governar com ela. Ao normalizar esta cooperação no Parlamento Europeu, estão a trazer ativamente para o poder extremistas ligados a Orbán, Meloni, Le Pen e Ventura. Estes não são apenas ataques à ação climática. São ataques ao próprio projeto europeu: a democracia, o estado de direito e os direitos fundamentais. O maior escândalo político de 2025 é que o PPE agora faz isso abertamente, semana após semana, enquanto ainda finge defender os valores europeus", denunciou a co-presidente Vula Tsetsi.
Para os Verdes Europeus, foi rompido o cordão democrático que manteve os extremistas fora do poder.
"Hoje, enfrentamos resistência às nossas políticas, não apenas da extrema-direita, mas também da direita", reconheceu Vula Tsetsi, apontando que esta "traição vai muito além da ecologia".
"Diz respeito à democracia, às instituições europeias, à Europa, aos valores. E eu acredito que esta é a mensagem que gostaríamos de enviar desde aqui de Portugal, de que precisamos, juntos com os progressistas, de impulsionar a nossa agenda, não apenas para salvar o ambiente, mas também para salvar o projeto europeu", apelou na conferência de imprensa no segundo dia de congresso.
"É impossível construir a casa comum europeia sem termos casas para os europeus comuns"
A habitação, problema crítico em Lisboa, foi um dos temas principais, com o porta-voz do Livre, partido membro dos Verdes Europeus, a defender uma resposta transversal a toda a União Europeia.
"A crise da habitação está intimamente ligada com o mercado interno, nomeadamente financeiro, por um lado, e com a liberdade de circulação. Portanto, é absolutamente evidente, - mais evidente ainda do que no tempo da pandemia de que a Europa devia ter um papel na Saúde -, que a Europa, desde o início, deveria ter um papel na habitação", defendeu Rui Tavares em declarações à Euronews.
Um relatório divulgado pelo Conselho Europeu recentemente concluiu que Lisboa é a cidade da Europa em que os habitantes destinam maior percentagem do seu salário para pagar a habitação. Os lisboetas destinam 116% do salário para habitação.
Ainda que a crise na habitação tenha características locais e variações entre regiões, é um problema que atinge toda a União Europeia. O crescimento médio dos preços das casas na UE foi de 58,33% entre 2015 e o primeiro trimestre de 2025. Segundo dados do Eurostat, nesse período os preços das casas cresceram 147% em Portugal.
"É impossível construir aquilo a que sempre chamamos a casa comum europeia sem termos casas para os europeus comuns, que os europeus comuns possam pagar. E aqui em Lisboa, nós estamos no epicentro da crise da habitação", sublinhou o porta-voz do Livre.
Livre promete discutir questões do trabalho no Parlamento
Em vésperas de uma greve geral em Portugal motivada pelo novo pacote laboral do Governo, os direitos dos trabalhadores também estiveram em destaque.
"Numa altura em que enfrentam uma greve geral na próxima semana, é tão importante que nós permaneçamos contra contratos intermitentes, que defendamos os direitos que foram conquistados arduamente nos últimos 100, 150 anos. Temos de garantir que os governos não ignoram os sindicatos. Isso é crucial nos próximos anos", afirmou Ciarán Cuffe, co-presidente dos Verdes Europeus, em declarações aos jornalistas no congresso.
À Euronews, Rui Tavares também disse estar do lado dos sindicatos e dos representantes dos trabalhadores nesta greve geral, criticando a "pertinência" desta revisão do código laboral no contexto atual.
"Desta vez, sem terem o pretexto da austeridade, do descontrolo das contas públicas, com o emprego a níveis máximos em Portugal, ainda assim querem atacar os direitos dos trabalhadores", salientou.
O porta-voz do Livre prometeu que no Parlamento, o partido vai "fazer o máximo por discutir as questões do trabalho onde elas podem ser discutidas em temas positivos que aumentam a produtividade, como a semana de quatro dias, como outros direitos dos trabalhadores, como a participação dos trabalhadores nos conselhos de administração das empresas".
"Vamos ver quando a lei for votada, porque este governo não tem maioria absoluta, quem é que vai estar ao lado deles e vai ser a extrema-direita", acrescentou ainda.
Após três dias de trabalhos, ficou clara a intenção dos Verdes Europeus de apostar em soluções concretas para responder aos problemas reais das pessoas e ganhar terreno junto do eleitorado.
O co-presidente Ciarán Cuffe destacou a recente vitória dos Verdes em Copenhaga, passando agora a serem cinco as capitais europeias lideradas pelos progressistas: Amesterdão, Budapeste, Zagreb, Riga e Copenhaga.
"Como mostram as nossas vitórias nestas cidades, continuamos a responder ao desejo europeu de uma Europa que proteja as pessoas e o planeta, investindo em energia limpa, infraestruturas resilientes e economias justas e verdes. Queremos construir soluções que protejam as pessoas de ondas de calor, secas e incêndios florestais. A nossa visão capacita aqueles que estão em maior risco, garantindo que a justiça climática e a justiça social andam de mãos dadas", concluiu Cuffe.
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