Como funciona o Elevador da Glória e o que sabemos sobre o momento do acidente

Passavam poucos minutos das 18 horas de quarta-feira quando ocorreu uma das maiores tragédias dos últimos tempos em Portugal: o histórico Elevador da Glória, em Lisboa, que faz o percurso entre os Restauradores e o Miradouro de São Pedro de Alcântara, descarrilou na calçada com o mesmo nome, matando pelo menos 17 pessoas.
Segundo o jornal Público, a tragédia foi desencadeada pelo rompimento de um cabo de segurança que liga as duas composições do ascensor, cada uma com capacidade para 42 pessoas, e funciona como contrapeso entre essas estruturas.
A cabina que se encontrava numa trajetória ascendente, junto à Praça dos Restauradores, terá descido entre um a dois metros até ao limite inferior do carril sem se soltar, um embate que provocou a maioria dos feridos ligeiros.
Já a carruagem que fazia um movimento descendente desprendeu-se do trilho em que seguia e avançou descontroladamente a grande velocidade até tombar numa curva, embatendo num prédio e ficando completamente destruída.
Neste momento, ainda não se sabe se ocorreu uma falha dos freios instalados na composição que estava a fazer a descida.
Como funciona o Elevador da Glória
O Elevador da Glória, inaugurado em 1885, é uma das mais emblemáticas atrações turísticas da cidade de Lisboa.
Numa fase incial, funcionava através de um sistema de rodas dentadas e de um cabo, sendo o equilíbrio garantido por um contrapeso de água. Passou posteriormente a operar a vapor até 1915, altura em que o funcionamento começou a ser elétrico, tal como acontece hoje em dia.
Os dois elétricos amarelos que existem atualmente disponibilizam dois trajetos, um ascendente e outro descendente, entre a Praça dos Restauradores e a zona do Bairro Alto, onde se localiza o Miradouro de São Pedro de Alcântara, que oferece uma das melhores vistas para o Castelo de São Jorge.
Cada um dos veículos, ligados por um cabo, tem capacidade para acolher 22 pessoas sentadas e 20 de pé.
As composições cruzam-se sempre a meio do percurso de 275 metros, que conta com uma inclinação de 18% na Calçada da Glória e tem uma duração de cerca de três minutos.
Além do Elevador da Glória, a Carris, empresa municipal, gere os Ascensores da Bica e do Lavra, assim como o Funicular da Graça.
A Câmara Municipal de Lisboa suspendeu de imediato o funcionamento de todos estes equipamentos para uma inspeção urgente.
Manutenção feita por empresa externa
A Carris assegura ter posto em prática e respeitado "todos os protocolos de manutenção, nomeadamente a manutenção geral, que ocorre a cada quatro anos", bem como a "reparação intercalar, que é concretizada de dois em dois anos, tendo a última sido realizada em 2024".
A empresa anunciou ainda que "têm sido escrupulosamente cumpridos os programas de manutenção mensal, semanal e a inspeção diária", acrescentando que "abriu de imediato um inquérito, em conjunto com as autoridades, para apurar as reais causas deste acidente".
Pedro de Brito Bogas, presidente da Carris, disse aos jornalistas que a manutenção do equipamento nos últimos 14 anos esteve a cargo da empresa privada Main Energy, contratada externamente.
Ainda assim, o último contrato público para o efeito, visível, no Portal Base, foi assinado em 2022 com outra empresa, a MNTC – Serviços técnicos de engenharia, Lda.
O sindicato que representa os trabalhadores da Carris acusa a empresa que é propriedade da Câmara Municipal de Lisboa de ter desmontado deliberadamente a oficina própria de reparação, argumentando que "a Carris sempre teve meios para realizar a manutenção de forma interna".
O Ministério Público já fez saber que vai abrir um inquérito para apurar as causas do acidente, enquanto o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) informou que dará início a uma investigação, com a recolha de provas no local a arrancar esta quinta-feira.
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