Ataque com drones à Polónia: "Putin está a testar a Europa e enviou um sinal a Trump", dizem os especialistas

A intrusão de drones no espaço aéreo polaco causou uma preocupação compreensível, mas também questões sobre o propósito deste ataque e possíveis cenários de como a situação poderia evoluir.
Quando questionado pela Euronews sobre o que a Polónia deve fazer nesta situação e, acima de tudo, o que podemos esperar dos aliados, Michał Dworczyk, antigo vice-ministro da Defesa Nacional e agora vice-presidente da subcomissão de Defesa e Segurança do Parlamento Europeu, respondeu:
"Antes de mais, devemos pedir apoio para selar a defesa aérea na nossa fronteira oriental. A encomenda e a implementação deste tipo de equipamento requerem tempo, de que não dispomos, pelo que, enquanto não tivermos as infraestruturas adequadas, temos de contar com o apoio dos aliados. Mas também apoio quando se trata de reconhecimento e alerta contra meios de ataque aéreo, ou seja, drones, mísseis, etc."
O artigo 4 da NATO
Por sua vez, Tomasz Szatkowski, também antigo vice-ministro da Defesa e embaixador da Polónia na NATO, falou-nos dos procedimentos adotados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte nestas situações.
"No que diz respeito ao artigo 4º, de que toda a gente fala agora, é geralmente aplicado de forma quase automática a pedido de um país membro. É, afinal, apenas uma questão de consulta. O procedimento é que um país membro faz um pedido ao secretário-geral que convoca uma reunião - foi o caso, por exemplo, a 24 de fevereiro de 2022, após o ataque russo à Ucrânia. As consultas têm então lugar e esta é a reação mais fraca. Ao mesmo tempo, porém, é um sinal político importante. Muitas vezes, há também uma declaração conjunta que exprime solidariedade ou até anuncia uma ação. E a NATO tem essas possibilidades, por um lado, através do Conselho do Atlântico Norte, que é um órgão político, e, por outro lado, através do Comando Estratégico, que tem a possibilidade - graças aos planos operacionais - de tomar medidas concretas. Isto é, por exemplo, enviar tropas ou equipamento".
Rússia está a testar a resposta da NATO?
A pergunta que fizemos aos dois entrevistados foi até que ponto se pode falar de um incidente acidental e até que ponto se pode falar de uma ação deliberada.
"Uma ação acidental é uma opção muito irrealista, porque estes incidentes acontecem demasiadas vezes. Já houve incidentes com foguetes, incidentes com drones e há cada vez mais incidentes, com uma frequência crescente. Por isso, isto parece mais um teste à reação da NATO, mas também, claro, da Polónia. Quando digo a reação da Polónia, refiro-me à reação das nossas forças armadas, da administração e da classe política", explicou Michał Dworczyk.
E acrescentou: "Até agora, sim, à exceção de alguns pequenos e desnecessários beliscões do primeiro-ministro Tusk. Mas é mais importante que as declarações se traduzam em ações reais. E em breve haverá um teste. Solicitámos que a comissão de defesa nacional no Sejm polaco seja autorizada a participar nas discussões sobre a forma como o dinheiro do SAFE, ou empréstimos da UE para a compra de equipamento militar, será gasto. Trata-se de uma enorme quantia de dinheiro, 43,7 mil milhões de euros, que estamos a pedir emprestado como Estado e que deve ser atribuída de forma justa, incluindo aos fabricantes polacos de defesa aérea, tanto estatais como privados".
Tomasz Szatkowski também exclui uma ação aleatória:
"A minha sensação é que se trata mais de enviar um sinal - a questão é para quem? Na minha opinião, em primeiro lugar e acima de tudo para os americanos, e relaciono isto com a insatisfação expressa pelo presidente Trump com a falta de progressos nas conversações de paz entre a Rússia e a Ucrânia, bem como com a recente visita do presidente Karol Nawrocki aos EUA e o anúncio americano do envio de mais tropas para a Polónia. A Polónia é um país instável, na linha da frente. Querem mesmo enviar mais tropas para lá? Estão a ver do que somos capazes. A questão é saber como é que os americanos vão reagir a isto. O presidente Trump, por um lado, não quer uma escalada do conflito, mas, por outro lado, não gosta de recuar nas suas promessas", concluiu Szatkowski.
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