Lula responde a Trump ao sublinhar que a democracia e a soberania do seu país “é inegociável"

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a soberania do seu país e condenou veementemente o "genocídio em curso" em Gaza, durante o seu discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, na terça-feira, em Nova Iorque.
Sem citar diretamente o nome do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Lula disse que a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado era um recado para todos os candidatos autocráticos e os seus apoiantes.
"Falsos patriotas tramam e promovem publicamente ações contra o Brasil. A pacificação não pode ser arquivada impunemente. Há poucos dias, e pela primeira vez em 525 anos da nossa história, um antigo chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado de direito democrático. Foi investigado, acusado, julgado e responsabilizado pelos seus atos no âmbito de um processo exaustivo", lembrou Lula.
"Diante dos olhos do mundo, o Brasil enviou uma mensagem a todos os candidatos autocráticos e àqueles que os apoiam: A nossa democracia e a nossa soberania não são negociáveis. Continuaremos a ser uma nação independente e um povo livre de qualquer tipo de tutela", proferiu o Presidente do Brasil perante uma plateia de mais de 190 representantes das nações do mundo.
O presidente Trump denunciou publicamente o julgamento de Bolsonaro como uma "caça às bruxas" e, em julho, o seu governo impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, citando o caso contra o ex-presidente, entre outras questões. "Os falsos patriotas conspiram e promovem publicamente ações contra o Brasil. A pacificação não pode ser arquivada impunemente", disse Lula, em clara alusão às recentes tentativas da administração Trump de influenciar a decisão do Supremo Tribunal durante o julgamento do ex-presidente, Jair Bolsonaro.
O Brasil é um membro proeminente do bloco BRICS, que junta Rússia, Índia, China e África do Sul. Os BRICS têm sido alvo de atenção como um espaço crescente do chamado Sul Global e de influência sino-russa, uma vez que estas potências têm vindo a confrontar-se cada vez mais com o Ocidente.
Lula expressou preocupação com esta crescente polarização que também traz instabilidade para a América Latina. "Manter a região como uma zona de paz sempre foi e continua a ser nossa prioridade".
"Na América Latina e nas Caraíbas, vivemos um momento de crescente polarização e instabilidade. Manter a região como uma zona de paz sempre foi e continua a ser a nossa prioridade. Somos um continente livre de armas de destruição maciça, sem conflitos étnicos ou religiosos. A equiparação da criminalidade ao terrorismo é preocupante. A forma mais eficaz de combater o tráfico de drogas é a cooperação para suprimir o branqueamento de capitais e limitar o comércio de armas. O uso da força letal em situações que não constituem um conflito armado é equivalente à execução de pessoas sem julgamento".
Ainda em relação à política externa, Lula condenou os ataques do Hamas e a resposta militar de Israel em Gaza.
"Nenhuma situação é mais emblemática do uso desproporcionado e ilegal da força do que a da Palestina”, lembrou Lula. “Os ataques terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sob qualquer ângulo, mas nada, absolutamente nada justifica o genocídio em curso em Gaza”, enfatizou.
O discurso do Presidente do Brasil foi bastante aplaudido. Mantendo uma tradição que remonta a 1947, o Brasil foi o primeiro país a discursar na sessão plenária dos líderes mundiais. Seguiu-se o de Donald Trump.
Entre os vários assuntos abordados pelo Presidente dos EUA, Trump não esqueceu as palavras prévias do seu homólogo brasileiro e respondeu-lhe, dizendo que as tarifas impostas se devem às tentativas de censura e perseguição de opositores políticos. “Usamos tarifas como mecanismo de defesa da segurança”, discursou Trump.
“O Brasil enfrenta estas tarifas duras por interferir nos direitos e liberdades dos cidadãos norte-americanos”, disse o presidente norte-americano.
“Não estou orgulhoso em dizer isto, encontrei Lula no corredor e abraçamo-nos. Disse-lhe, acredite ou não, vou dizer estas coisas sobre si, nos próximos dois minutos”, confidenciou Donald Trump, acrescentando que “a química entre os dois é ótima, ele [Lula da Silva] é um bom homem e eu só negoceio com boas pessoas”, concluiu o Presidente dos EUA, soltando gargalhadas na plateia.
Today