Marcelo Rebelo de Sousa defende papel da ONU e responde às críticas de Trump

Depois do corrosivo discurso em que Donald Trump criticou o papel das Nações Unidas, que considerou "ineficaz" na resolução de conflitos, e se dirigiu à Europa dizendo que o continente estava a ser "arruinado" pela migração e pela luta contra as alterações climáticas (que considerou um "embuste"), o presidente português Marcelo Rebelo de Sousa respondeu à letra, neste seu último discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas.
O chefe de Estado português, que há um mês quase causou uma crise diplomática ao dizer que Trump é um "ativo russo", fez um discurso em que usou quatro línguas - português, inglês, francês e espanhol - começando por felicitar o compatriota António Guterres, secretário-geral da organização, passando depois à defesa do papel da ONU e às críticas (pouco) veladas a Trump.
"Há oito meses que esperamos que o líder do país mais poderoso do mundo resolva o problema da guerra na Ucrânia", começou por dizer, referindo-se à promessa feita pelo presidente norte-americano de "acabar com o conflito em 24 horas". "Também em relação ao Médio Oriente o mundo está à espera que o país mais poderoso do mundo faça alguma coisa", disse, defendendo mais uma vez a solução de dois Estados, o reconhecimento do Estado palestiniano feito recentemente pelo governo português e a procura imediata de um cessar-fogo que permita a libertação dos reféns retidos pelo Hamas e o fim da tragédia a que se assiste na Faixa de Gaza, em que já morreram mais de 65 mil pessoas.
Marcelo Rebelo de Sousa salientou a importância que a ONU tem em todos estes conflitos e os esforços que está a fazer para que cessem, "na época com maior número de conflitos armados da história", até porque "nenhum poder é eterno". Disse ainda que "promover a paz sem promover o desenvolvimento é algo que não funciona".
Por fim, apelou a uma reforma do Conselho de Segurança, "em que África deve estar representada em permanência, tal como países emergentes como a Índia ou o Brasil". "O Conselho de Segurança deve refletir a geopolítica de 2025 e não a de 1945", disse.
O presidente português acrescentou ainda que as partes interessadas em conflitos não podem ter poder de veto sobre resoluções que versam sobre esses mesmos conflitos, acrescentando que é "incompreensível que soluções imprescindíveis para aliviar o sofrimento humano em casos de conflito possam ser paralisadas pelo veto de um país".
Rebelo de Sousa apelou assim a que Portugal seja eleito para este órgão no biénio 2027-2028, para o qual é candidato na condição de membro não-permanente.
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