Quatro portugueses a bordo da flotilha rumo a Gaza foram detidos por Israel

Um quarto cidadão português seguia a bordo da flotilha humanitária que fazia a viagem rumo a Gaza, confirmou a Euronews junto de fonte oficial do Ministério Português dos Negócios Estrangeiros.
A tutela indicou estar ainda a aguardar a autorização dos seus familiares, que entraram em contacto com o gabinete de emergência consular, para uma "eventual divulgação da identidade deste cidadão nacional", que se encontrava na embarcação Selvaggia, mas entretanto, em declarações à CNN Portugal, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, identificou o quarto cidadão como Diogo Chaves, que foi igualmente detido pelas forças israelitas.
De acordo com um comunicado divulgado pela Flotilha Global Sumud, esta quinta-feira, a embarcação Selvaggia, de bandeira italiana, era, de facto, parte integrante da missão e estava listada como uma das embarcações com as quais foi perdido o contacto.
Questionado sobre por que razão não tinha sido previamente comunicada a participação de Diogo Chaves, o chefe da diplomacia portuguesa indicou que "essa pessoa nunca comunicou" que seguia a bordo da flotilha e assegurou que o Executivo nacional manteve "contacto regular com os três cidadãos portugueses, incluindo por e-mail”, que tinham anunciado ser parte integrante da missão.
Além disso, este quarto cidadão ter-se-á juntado à caravana humanitária num momento posterior, já depois da sua partida do porto espanhol de Barcelona, o que terá dificultado a sua contabilização atempada, justificou o ministro.
Para além deste português, seguiam a bordo outros três cidadãos nacionais: a deputada bloquista Mariana Mortágua, o ativista Miguel Duarte e a atriz Sofia Aparício. Segundo Paulo Rangel, todos "estão de boa saúde e em segurança", apesar da sua detenção pelas forças israelitas.
Em representação do Bloco de Esquerda, após uma audiência com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o ex-deputado Fabian Figueiredo criticou o Governo por não lhes ter facultado qualquer "informação relevante" sobre a situação dos portugueses envolvidos na missão e por não ter sido dada, ao partido, qualquer resposta aos pedidos de reunião endereçados pelos bloquistas nesse sentido.
Uma informação desmentida pelo chefe da diplomacia portuguesa, que assegurou ter transmitido "toda a informação" existente a altos dirigentes desse mesmo partido de esquerda, embora sem revelar quem.
"Foi pelo Presidente da República que soubemos, agora, que os quatro portugueses se encontram em terra, num porto israelita, e que existe a possibilidade, ainda não confirmada, de os cidadãos portugueses, e as cidadãs portuguesas, serem visitados pela embaixadora de Portugal em Israel", referiu ainda Fabian Figueiredo.
A interceção por parte de Telavive
No mesmo comunicado citado anteriormente, a Flotilha Global Sumud detalhou que "centenas de participantes foram sequestrados e, segundo relatos, transportados a bordo do grande navio MSC Johannesburg" na sequência da interceção de que foram alvo, que os organizadores consideraram ser ilegal.
"Isto aconteceu depois de terem sido atacados com canhões de água, molhados com água com odor repugnante e de as suas comunicações terem sido sistematicamente bloqueadas, em mais atos de agressão contra civis desarmados", lê-se na mesma nota informativa.
Os organizadores da missão acrescentaram ainda, além disso, que "vários barcos teriam sido detidos por uma barreira semelhante a uma corrente em águas internacionais, onde Israel não tem jurisdição".
Disseram ainda que os advogados que representam os participantes na missão obtiveram "poucas informações" e não foram "informados sobre se os cerca de 443 voluntários da frota, que foram retirados à força dos seus navios", chegariam ao porto de "Ashdod, onde deverão ser processados sob detenção ilegal". No entanto, o jornal espanhol El País já noticiou que o navio da Marinha israelita com os elementos da frota intercetados já atracou nesse local.
A Flotilha Global Sumud relatou ainda que, de acordo com as informações disponíveis até ao momento, o navio Mikeno, "que navega sob bandeira francesa, pode ter entrado em águas territoriais palestinianas", embora não se esteja a conseguir estabelecer contacto com o mesmo. Já a embarcação "Marinette, que navega sob bandeira polaca, continua ligada via Starlink e a estabelecer comunicação, transportando um total de seis passageiros a bordo", informam ainda os organizadores.
Voltaram a reforçar que nas embarcações que integravam a missão seguiam apenas "alimentos, fórmulas infantis, medicamentos e voluntários de 47 países" e que esta não passava de uma iniciativa de natureza "pacífica e não violenta".
Apesar da informação divulgada pelos organizadores da missão, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel informou, por via de uma publicação na rede social X, que todas as embarcações que integravam a flotilha humanitária já foram intercetadas pelas forças do país.
Governo espera que "tudo se vá processar com grande normalidade"
Ao início da manhã, o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, tinha destacado que o Executivo nacional estava "em contacto com as autoridades israelitas com vista a salvaguardar a situação desses portugueses” que seguiam na flotilha rumo a Gaza. Tendo acrescentado que seria "expectativa" do Governo que "tudo se vá processar com grande normalidade" e que o regresso destes portugueses "possa também acontecer sem nenhum tipo de incidente”.
O líder do Governo português manifestou ainda disponibilidade para participar em qualquer "mecanismo de cooperação" com outros países, com vista a promover o retorno dos cidadãos detidos.
Num momento em que ainda não se tinha confirmado que seguia um quarto cidadão português a bordo da flotilha, e em declarações na cidade dinamarquesa de Copenhaga, onde decorre hoje uma reunião da Comunidade Política Europeia, Montenegro notou ainda que "não é de desprezar a circunstância de uma destas pessoas" que seguia na missão "ser, além do mais, titular de um órgão de soberania”.
Sobre a "mensagem política" que "está subjacente a este evento e a esta iniciativa", o primeiro-ministro português destacou que, na sua ótica, esta já "estará, neste momento, executada”.
Ministro da Defesa considera "iniciativa irresponsável"
Já Nuno Melo, ministro português da Defesa, em declarações aos jornalistas em Mondim de Basto, no âmbito da campanha eleitoral autárquica, indicou, segundo reporta a agência Lusa, que deseja que Israel "se comporte" como um estado democrático, "devolvendo os cidadãos portugueses e os outros aos seus países de origem e tratando-os com respeito pelos direitos que lhes cabem".
Sobre a participação de portugueses na missão promovida pela Flotilha Global Sumud, afirmou, em declarações inicialmente transmitidas pelo Now: "Manifestamente, constato uma iniciativa panfletária, que considero irresponsável, em direção a um território ocupado por uma organização terrorista [Hamas], responsável por um ataque que vitimou mais de 1.200 pessoas em Israel".
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