Porque é que Zelenksyy não parou em Roma na sua digressão europeia?
Nos últimos dias, o presidente ucraniano fez breves visitas a alguns países da UE. Esteve em Atenas, Paris e Madrid para discutir a ajuda com os respetivos dirigentes. Na capital grega, falou-se mais de fornecimento de energia do que de armas. O governo de Kyriakos Mitsotakis garantiu a Kiev o fornecimento de gás de janeiro a março de 2026.
Depois, o encontro com Macron, em Paris, que levou a um novo entendimento na frente da defesa aérea e, finalmente Madrid, com a Espanha a desempenhar o seu papel na ajuda a Kiev.
Desta vez, não está prevista uma paragem em Roma. Mas porquê? Há alguma razão específica? Falámos com Eleonora Tufaro, investigadora principal do Observatório Ispi para a Rússia, o Cáucaso e a Ásia Central.
Uma maioria dividida e o novo pacote de ajuda militar a Kiev
Enquanto fontes da embaixada ucraniana na capital, citadas pelo diário La Stampa, esclarecem que o encontro entre Zelenskyy e Meloni não estava na agenda - os dois líderes, dizem, já se tinham encontrado à margem do Conselho Europeu de 23 de outubro -, a controvérsia no seio da maioria continua, com o ministro dos Transportes, Matteo Salvini, a dizer que era contra a nova ajuda a Kiev, devido a acusações de corrupção contra a classe dirigente ucraniana.
Entretanto, o ministro da Defesa, Guido Crosetto, apresentará ao parlamento, em dezembro, o 12.º pacote de armas para a Ucrânia, que deverá ser aprovado.
Em segundo plano está a participação da Itália na iniciativa da NATO denominada Prioritised Ukraine Requirements List (PURL), que prevê a aquisição de armas norte-americanas para a Ucrânia por parte dos parceiros europeus.
Zelenskyy evitou Roma?
"Esta é uma viagem muito restrita, que não toca muitas capitais", disse Tufaro à Euronews. "Havia objetivos precisos para a visita à Grécia e a França. Espanha, aliás, não é um dos aliados mais fortes da Ucrânia, embora a apoie", detalha a especialista.
"Não creio que, por detrás do facto de Zelenksy não ter ido a Itália, possa estar uma tentativa de desprezar Roma. Itália tem-se confirmado como um parceiro credível para a Ucrânia, pelo menos de forma consistente, mesmo que não esteja entre os principais apoiantes, se olharmos para os últimos números em relação à percentagem do PIB total que atribui".
"Roma, como prova da sua proximidade com Kiev", acrescentou a especialista do Ispi, "também organizou recentemente a conferência sobre a reconstrução da Ucrânia".
A adesão da Itália à PURL
Itália continua a ser um dos poucos países que ainda não confirmaram a sua participação na PURL, à qual já aderiram dezasseis países. Perguntámos o porquê desta hesitação, tendo em conta as relações estreitas entre Roma e Washington. "Basta ver o que aconteceu em França", observa Tufaro, "há um desejo por parte dos Estados europeus de favorecerem também a sua própria indústria militar".
"É a mesma lógica", conclui a investigadora, "que está na base da conferência sobre a reconstrução da Ucrânia. Por outras palavras, a mensagem é: ajudamos a Ucrânia e o nosso sistema nacional e as nossas indústrias também beneficiam".
Países europeus e ajuda à Ucrânia
De acordo com os últimos dados disponibilizados pelo departamento de investigação Statista, sobre a ajuda oferecida à Ucrânia, entre janeiro de 2022 e junho de 2025, em termos de percentagem do PIB, a Dinamarca ocupa o primeiro lugar com 2,89%, seguida da Estónia (2,8%) e da Lituânia (2,16%). A Itália ocupa o 27.º lugar, depois de França e Alemanha.
Por outro lado, se considerarmos a classificação da ajuda militar, expressa em milhares de milhões de euros, durante o mesmo período, encontramos a Alemanha em primeiro lugar, seguida do Reino Unido e da Dinamarca. Itália ocupa o décimo primeiro lugar, com 1,7 mil milhões de euros.
"Do ponto de vista da segurança, entre os principais países europeus em termos de montante de ajuda à Ucrânia, temos a França e o Reino Unido. A França não pretende apenas exportar, mas também construir armamento com a Ucrânia", explica Tufaro. "Kiev está a avançar nesta direção, ou seja, reforçar a sua indústria de defesa também com vista à adesão à UE".
"O ator que, no entanto, entre os europeus, dá mais dinheiro e armamento", conclui o investigador, "é definitivamente a Alemanha".
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