"Possibilidade de reunião entre Zelenskyy e Putin é enorme avanço", diz António Costa

A União Europeia e os seus aliados têm de acompanhar a intensa atividade diplomática para pôr fim à guerra da Rússia na Ucrânia com um aumento do "trabalho prático" para dar a Kiev garantias de segurança parecidas com o artigo 5.º da NATO.
"Agora é o momento de acelerar o nosso trabalho prático para criar uma garantia semelhante ao artigo 5.º da NATO com o envolvimento contínuo dos Estados Unidos", disse António Costa, em declarações na representação da Comissão Europeia, em Lisboa, após a videconferência de líderes da UE.
Costa revelou que falou com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, resumindo as prioridades da UE que foram discutidas durante a chamada desta manhã.
"Após três anos e meio de guerra, a atividade diplomática está a acelerar e existe uma dinâmica crescente em torno do fornecimento de garantias de segurança à Ucrânia, incluindo o acordo do Presidente dos EUA, Donald Trump, em participar neste esforço", disse o chefe do Conselho Europeu aos jornalistas, após reuniões virtuais consecutivas da chamada "Coligação dos Dispostos" e dos líderes da UE.
O Presidente do Conselho Europeu voltou a expressar "a unidade e o apoio inabalável" da UE à Ucrânia, bem como o compromisso de manter a pressão sobre a Rússia.
Em primeiro lugar "assegurar que os ataques param, e pôr fim às mortes. Foram também abordadas questões como "o retomar da troca de prisioneiros e a devolução das crianças raptadas e que estão desaparecidas".
Também foram discutidas "as garantias de segurança para um futuro de paz". " Foi especialmente importante o Presidente Trump ter confirmado a disponibilidade dos EUA para participar nas garantias de segurança", sublinhou Costa.
Foram também feitas conversações para "preparar as desejadas conversações bilaterais, trilaterais e quadrilaterais que possam ter lugar o mais depressa possível", anunciou o Presidente do Conselho Europeu.
"Do ponto de vista da UE discutimos o que a União Europeia pode fazer para apoiar estes esforços de paz", referiu, ressalvando que caso Putin não avance nos esforços de paz, a UE está preparada para pressionar a Rússia com um 19.º pacote de sanções.
Costa disse ainda que foi debatida a forma de "avançar no processo de alargamento [da UE], visto que o futuro da Ucrânia não são medidas de segurança. É também a perspetiva de estabilidade, de desenvolvimento e prosperidade que acesso à UE assegurará".
O presidente do Conselho Europeu explicou que "ao longo das próximas semanas" haverá "muito trabalho pela frente", após os desenvolvimentos do encontro de Zelenskyy e Trump nos EUA.
Questionado sobre as declarações de Donald Trump, que desvalorizou um cessar-fogo e apelou ao fim da guerra, Costa reiterou que "o que é fundamental não são as palavras”. "O que é fundamental é que a guerra pare. Estamos há mais de três anos com uma guerra constante, é preciso que ela pare. Se lhe chamamos tréguas, cessar-fogo, acordo de paz… O que importa é que as mortes e a destruição terminem e que as negociações sejam possíveis", frisou.
António Costa realçou ainda que "só a existência" da possibilidade de reunião entre o Presidente da Ucrânia e o Presidente da Rússia, como foi transmitido na segunda-feira por Donald Trump, "é em si bastante positivo". "Até ao momento o presidente Putin nunca aceitou essa possibilidade", lembrou o Presidente do Conselho Europeu.
"A haver essa possibilidade é enorme avanço, mas todos temos de trabalhar para que essa possibilidade se transforme em realidade, que reunião tenha lugar, que seja bem sucedida e que possamos avançar para reunião trilateral entre o presidente Putin, o presidente Zelenskyy e o presidente Trump e que haja um momento em que que haja uma discussão com UE sobre a segurança da Europa", reforçou.
Os aliados têm agora de definir como é que isso vai ser na prática, mas para os europeus, que se têm juntado a Trump na última semana numa clara demonstração de unidade, o verdadeiro avanço foi o compromisso do Presidente dos EUA de que Washington participaria nas garantias de segurança para a Ucrânia.
Analisar a possibilidade de envio de forças de paz
De acordo com um relatório da reunião da Coligação de Vontades (Coligação de Boa Vontade) partilhado pelo gabinete do primeiro-ministro britânico - a Grã-Bretanha co-preside o grupo juntamente com a França - "as equipas de planeamento irão reunir-se com os seus homólogos americanos nos próximos dias para reforçar os planos para fornecer garantias de segurança robustas".
As equipas continuarão também o seu trabalho, iniciado em março, para "preparar o destacamento de uma força de garantia em caso de fim das hostilidades", acrescentou Downing Street.
Esta força de tranquilização implicaria o envio de tropas dos aliados para o terreno em zonas sem contacto. Vários países, incluindo o Reino Unido, a França e a Estónia, já manifestaram a sua disponibilidade para o fazer.
Outras vertentes do trabalho incluem o reforço das forças armadas ucranianas para garantir que continuem a ser um forte fator de dissuasão nos próximos anos. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, reiterou este objetivo na segunda-feira, em Washington, solicitando mais equipamento militar, formação e dados de informação.
O país, assim como as instituições da UE, também vê a adesão ao bloco de 27 membros como uma garantia de segurança. Costa e Micheál Martin, o primeiro-ministro da Irlanda, país militarmente neutro, apelaram na terça-feira para que a UE avance com o processo de alargamento.
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