Imigrantes mobilizam-se no combate aos incêndios no interior de Portugal

Há mais de um mês que os incêndios florestais assolam Portugal, mas a situação agravou-se sobretudo nas duas últimas semanas. O interior do país, outrora despovoado, tem sido o mais afetado e os imigrantes têm desempenhado uma ajuda preciosa no combate às chamas, num sinal da mudança demográfica destes territórios fora dos grandes centros urbanos.
Muitos dos concelhos que têm resistido ao despovoamento é graças à fixação de imigrantes para o trabalho agrícola. São sobretudo oriundos do Brasil, Nepal, Bangladesh e Índia e também são contratados como sapadores florestais.
No centro do país, Oliveira do Hospital tinha apenas 50 estrangeiros em 2013, 10 anos depois tinha 283, o que corresponde a um aumento de 466%. Nos últimos dias, as chamas chegaram ao município depois de o incêndio de Pampilhosa da Serra, que começou na aldeia do Piódão, concelho de Arganil, se ter alastrado aos concelhos vizinhos.
Pelo menos 20 imigrantes do Bangladesh estiveram a trabalhar dia e noite para controlar as chamas devastadoras na área de Oliveira do Hospital.
"Devido à área remota, o fogo não pode ser controlado, apesar dos milhares de esforços. Estamos a trabalhar incansavelmente para manter casas e terrenos seguros. Esta situação tem persistido nos últimos dois meses, mas estamos a receber muito apoio dos locais", disse Jewel, um dos sapadores do Bangladesh que está envolvido no combate ao incêndio, à publicação bengali Dhaka Post.
O combate aos incêndios não é feito apenas pelos bombeiros ou por quem limpa a zona de mato. O indiano Ganga Singh, dono de estabelecimentos de restauração em Oliveira do Hospital, colocou, estes dias, 25 funcionários a distribuir refeições aos bombeiros.
"É a nossa obrigação. Não faço isto para agradar, mas porque todos temos que nos ajudar", afirmou à agência Lusa o empresário, que está em Portugal há nove anos e em Oliveira do Hospital há dois anos e meio.
Também em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Oliveira do Hospital, José Francisco Rolo, reconhece que "hoje em dia, quando se quer mão-de-obra para trabalhar é preciso ir buscar estrangeiros".
"Entre os sapadores florestais, a maioria são estrangeiros, muitos do Indostão ou de África e trabalham bem. Não há portugueses para assegurar a agricultura, a silvicultura ou os serviços", explica o autarca.
Segundo José Francisco Rolo, cita a Lusa, Oliveira do Hospital recebia antigamente imigrantes belgas, holandeses ou alemães. "Hoje chegam outros, mas todas estas comunidades se mobilizam contra o fogo, que é o inimigo comum" e "aí não há nacionalidades", há "compromisso e trabalho", resume.
Os incêndios já fizeram três vítimas mortais em Portugal. Segundo o Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS, na sigla em inglês) do programa Copernicus, o país já registou um total de 139 incêndios florestais. Um número que fica atrás de quatro outros países: Itália (464 incêndios), Roménia (453); França (244) e Espanha (228).
No entanto, em termos de percentagem de área ardida, o país é de longe o mais fustigado. Este ano já ardeu 2,69% do país, correspondente a mais de 247 mil hectares de floresta, abaixo da República Checa (2,3%) e de Espanha (0,8%).
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