António Costa: “Se queremos ser livres, não podemos depender militarmente de outras potências"

“Se queremos ser livres e autónomos, não podemos depender militarmente de outras potências”: o alerta surgiu do presidente do Conselho Europeu, António Costa, no seu discurso de aceitação do Prémio Fórum Europa na capital espanhola, Madrid.
Em causa uma distinção que foi atribuída ao português no contexto de uma edição que assinala os 25 anos do referido Fórum, mas também os 40 anos da adesão de Portugal e de Espanha à então Comunidade Económica Europeia (CEE), precursora da União Europeia, e o 75.º aniversário da Declaração Schuman.
Na ótica de António Costa, “a paz sem defesa é uma ilusão” e o “soft power, por si só, não é suficiente num mundo onde o hard power prevalece cada vez mais”. Por isso, “neste novo mundo mais duro e mais perigoso, que está agora a surgir”, é preciso “defender o nosso modelo” social europeu – marcado pela “diversidade cultural”, pelas “liberdades”, pela “tolerância” e pela “democracia” – “com unhas e dentes”.
Num contexto desta natureza, clarificou o presidente do Conselho Europeu, se o bloco comunitário quer “ter influência e fazer ouvir” a sua voz – tendo aqui citado a situação de conflito no Médio Oriente – “não bastará defender princípios elevados, emitir declarações ou exercer o poder económico”. Tendo acrescentado ainda que, numa altura em que “os nossos aliados [da União Europeia] inspiram menos confiança e os nossos adversários aumentam as suas ameaças, temos de ser capazes de nos manter de pé”.
E “é por isso que estamos a aumentar massivamente os nossos investimentos na defesa”, concluiu, fazendo referência àquela que é encarada pelos dirigentes da União Europeia como uma das principais prioridades para os próximos anos.
O Prémio Fórum Europa foi atribuído a António Costa, lê-se no site da entidade organizadora, como “uma expressão do reconhecimento da sociedade espanhola pela sua carreira política” e “pela sua amizade com Espanha”. Mas também “pelo seu firme compromisso com os valores fundadores da União Europeia” e “pela sua contribuição notável para a construção de uma Europa mais unida, social e democrática”.
Conselho de Costa está a ser seguido por Berlim
As palavras de António Costa surgem numa altura em que a Alemanha, por exemplo, trabalha para se apoiar cada vez mais na indústria de defesa europeia, em detrimento do armamento vindo dos Estados Unidos.
De acordo com a informação avançada pelo jornal Politico, o executivo de Berlim encontra-se a trabalhar num plano global de modernização militar, no valor de 83 mil milhões de euros, até ao final de 2026. Com a lista de contratos definidos a evidenciar que a grande maioria dos fornecedores necessários para concretizar a iniciativa serão europeus, sendo atribuída às empresas norte-americanas uma quota bastante reduzida dos investimentos previstos.
Em causa um projeto que foge, em larga medida, àquela que tem sido a realidade do setor alemão da defesa, mas também do europeu na sua globalidade. Ao longo dos últimos anos, a maior fatia das exportações de armas dos Estados Unidos destinou-se à Europa, com a percentagem a subir de 13% (2015-2019) para 35% (2020-2024). Os Estados europeus da NATO duplicaram as suas importações de armas durante este período, com dois terços a serem provenientes dos Estados Unidos.
A dependência de Berlim face ao armamento norte-americano foi ainda maior: cerca de 70% das importações do país, as quais aumentaram 334% durante os anos indicados, vinham de Washington.
Yesterday