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"A ameaça invisível": exposição à poluição atmosférica ao longo do tempo aumenta o risco de demência, diz estudo

• Jul 25, 2025, 5:27 AM
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Respirar ar poluído regularmente pode aumentar o risco de demência ao longo do tempo, revela um novo estudo de grande dimensão.

A análise, publicada na revista The Lancet Planetary Health, é o maior estudo até à data a confirmar a ligação entre a poluição atmosférica e a saúde do cérebro, embora subsistam dúvidas sobre o mecanismo real e o período de tempo em que as pessoas correm maior risco.

Cerca de 57 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de demência, que ocorre quando se perdem ou danificam as ligações das células nervosas no cérebro. Os cientistas identificaram uma série de fatores de risco, incluindo a poluição atmosférica, mas até agora não sabiam quais os poluentes de maior risco.

Para a nova análise, os investigadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, analisaram dados de 51 relatórios que abrangiam cerca de 30 milhões de pessoas, na sua maioria de países com rendimentos elevados.

Foram encontradas fortes ligações entre o risco de demência e a exposição a partículas finas provenientes de fontes como as emissões dos automóveis, as centrais elétricas e a poeira, bem como o dióxido de azoto proveniente da queima de combustível e a fuligem proveniente de fontes como os gases de escape dos automóveis e a queima de madeira.

Estes poluentes parecem estar mais ligados à demência vascular, causada por uma diminuição do fluxo sanguíneo para o cérebro, do que à doença de Alzheimer, a forma mais comum de demência. No entanto, essas diferenças podem não ser significativas.

"A poluição atmosférica não é apenas uma questão ambiental, é uma séria e crescente ameaça à saúde do nosso cérebro", afirmou a Dra. Isolde Radford, diretora sénior de políticas da Alzheimer's Research UK, num comunicado.

Os cientistas ainda não sabem se a poluição atmosférica causa efetivamente demência nem quais poderão ser as vias biológicas envolvidas. No entanto, acreditam que a poluição pode causar inflamação e stress oxidativo no cérebro, que podem danificar as células e o ADN, estando ambos associados ao aparecimento e à progressão da demência.

"O corpo não tem uma defesa eficaz contra as misturas de partículas ultrafinas que geramos no exterior, sobretudo devido ao tráfego, e no interior, por exemplo, ao aquecermos as nossas casas com fogões", afirmou Barbara Maher, professora de magnetismo ambiental na Universidade de Lancaster, no Reino Unido, que não participou no estudo, num comunicado.

A análise tem algumas limitações. É notoriamente difícil determinar exatamente a que poluentes uma pessoa está exposta ao longo do tempo, como esses poluentes interagem entre si e que impacto têm na saúde humana.

Tal como muitos outros estudos, este estimou a exposição das pessoas à poluição atmosférica com base no seu endereço residencial. Também não está claro em que momento da vida esta exposição é mais importante, embora os investigadores acreditem que possa ocorrer num período de anos ou mesmo décadas.

"É extremamente necessário melhorar a abordagem à investigação", afirmou Tom Russ, especialista em demência e psiquiatra da velhice na Universidade de Edimburgo, num comunicado.

"Este artigo responde melhor do que trabalhos anteriores à questão de saber se a exposição à poluição atmosférica está associada à demência, mas ainda precisamos de investigações mais aprofundadas para esclarecer como e por que razão a poluição atmosférica pode ser prejudicial para o cérebro", acrescentou Russ, que não esteve envolvido no estudo.

Ainda assim, os cientistas e as organizações de luta contra a demência apelaram aos governos para adotarem regras mais rigorosas em termos de qualidade do ar e tomarem outras medidas para reduzir a exposição das pessoas à poluição atmosférica.

"É preciso fazer muito mais para combater esta ameaça invisível", afirmou Radford.