Revolução médica no tratamento da doença de Parkinson: fotoestimulação revitaliza os neurónios destruídos

A unidade de investigação biomédica da Agência Francesa para a Energia Nuclear e as Energias Renováveis (CEA), em parceria com o Hospital Universitário de Grenoble (CHU de Grenoble), anunciou o início de um ensaio clínico preliminar destinado a avaliar a eficácia da fotobioestimulação no tratamento da doença de Parkinson.
O anúncio foi feito na estação de rádio France Inter, onde os investigadores explicaram que o ensaio se encontra numa fase muito inicial, mas representa um passo científico significativo no âmbito da medicina neurológica moderna.
O ensaio, que se encontra numa fase preliminar, tem como alvo os neurónios secretores de dopamina, que são gravemente afetados ao longo da doença.
Segundo Stéphane Chabardis, neurocirurgião no Hospital de Grenoble, o diagnóstico mostra que cerca de 50% destas células podem estar danificadas quando os sintomas começam a manifestar-se, sendo que os doentes perdem, em média, 10% da sua capacidade de recaptação de dopamina por ano.
O objetivo do ensaio é abrandar a deterioração neurológica dos doentes. Chabardis explicou que a técnica utilizada consiste em dirigir feixes de luz para os neurónios nas profundezas do cérebro, de modo a atingir as mitocôndrias, que são responsáveis pela produção de energia dentro da célula, e a estimulá-las, melhorando a sua função e, por conseguinte, revitalizando as células danificadas.
O principal desafio era aceder a estas regiões profundas do cérebro, desafio esse que foi superado com o desenvolvimento de um dispositivo compacto especial que combina conhecimentos avançados em eletrónica, fotónica e nanotecnologia, permitindo reduzir o tamanho do sistema sem comprometer o seu desempenho.
"A conjugação de conhecimentos especializados em neurocirurgia com conhecimentos especializados nos domínios da micro e da nanotecnologia permite-nos alcançar estes importantes avanços médicos", afirmou.
Até à data, a tecnologia foi aplicada em sete doentes nas fases iniciais da doença e os resultados preliminares indicam uma estabilização dos sintomas em três deles, sobretudo com estimulação contínua.
Chappardis acrescentou: "Nestes três primeiros casos, observamos um abrandamento da deterioração dos sintomas quando a estimulação é feita de forma contínua. Isto sugere que há um restabelecimento de algumas funções cerebrais através da estimulação fotobiológica. Estes resultados são ainda muito preliminares, mas o que temos observado até agora parece muito promissor".
O investigador salientou que só será considerado o lançamento de um ensaio clínico de maior dimensão se os resultados mostrarem um efeito tangível e estável.
Em França, estima-se que haja cerca de 250 000 pessoas com doença de Parkinson, um número que continua a aumentar. Atualmente, o tratamento baseia-se na medicação ou na estimulação elétrica, através da implantação de elétrodos no cérebro, mas estas opções só estão disponíveis para 10 a 20% dos doentes, não tratando a evolução da doença, mas sim limitando-se a aliviar os sintomas.
Este ensaio clínico representa o primeiro passo de uma nova abordagem que visa intervir no mecanismo de progressão da doença, recorrendo a uma técnica não invasiva que estimula a recuperação funcional dos neurónios.
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