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"Pescoço de texto": os smartphones estão a provocar um novo problema de saúde?

• Sep 3, 2025, 6:07 AM
5 min de lecture
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Basta uma pesquisa na internet por "síndrome de pescoço de texto" ou "pescoço tecnológico" para encontrar uma série de avisos.

A ideia é simples: as horas que passamos a olhar para os nossos telemóveis estão a provocar um aumento das dores no pescoço, com algumas fontes a sugerir que podem provocar lesões crónicas, problemas de postura a longo prazo e até degeneração da coluna vertebral.

Não é de admirar, tendo em conta os nossos hábitos de utilização de ecrãs. Dados recentes mostram que uma pessoa passa, em média, 4 horas e 37 minutos ao telemóvel todos os dias, o que equivale a mais de um dia inteiro por semana, ou seis dias por mês. O tempo de ecrã diário aumentou 7,9% desde 2013, aumentando quase meia hora por dia.

Do ponto de vista biomecânico, faz sentido que a expressão "pescoço de texto" tenha pegado: incline a cabeça 60 graus para a frente e o peso efetivo sobre o pescoço aumenta de cerca de 5 kg para mais de 27 kg, impondo mais tensão à coluna cervical e às estruturas circundantes.

Vários estudos recentes sugeriram ligações entre a utilização intensiva de smartphones e a dor músculoesquelética, com inquéritos que indicam que entre 50 a 84% dos utilizadores sentem desconforto no pescoço, nos ombros ou na parte superior das costas. Até 70% das crianças que passam 5 a 8 horas por dia nos ecrãs queixam-se de dores no pescoço.

Mas será que a síndrome do pescoço de texto é de facto uma nova doença?

Não, segundo o Professor Jan Hartvigsen, epidemiologista da Universidade do Sul da Dinamarca e um dos principais investigadores mundiais sobre dor na coluna. "A resposta curta é que não a vejo como uma verdadeira doença. É uma palavra da moda", afirma à Euronews Health.

Hartvigsen argumenta que muitas das provas que sustentam a síndrome do pescoço de texto são fracas. Muitos estudos têm amostras pequenas, baseiam-se em inquéritos auto-relatados ou têm um modelo de investigação transversal, não podendo demonstrar causa e efeito.

O investigador diz que a síndrome do pescoço de texto faz parte de uma longa tradição de pânicos de saúde ligados às novas tecnologias. "Por exemplo, quando foram construídos os primeiros caminhos-de-ferro, considerou-se que não era saudável para as costas viajar a velocidades tão elevadas. E quando toda a gente começou a ter computadores nos anos 90 e tínhamos um rato, de repente, tivemos uma epidemia de problemas no pescoço e na coluna e problemas nos braços devido à utilização do rato. Atualmente, já quase não se fala disso. Simplesmente desapareceu".

Isso não quer dizer que a dor no pescoço não seja real. É uma das queixas músculoesqueléticas mais comuns em todo o mundo, sobretudo entre os trabalhadores de escritório e os estudantes. Os especialistas recomendam que se façam pausas regulares no trabalho sedentário e que se mantenha um estilo de vida ativo fora do trabalho para ajudar a reduzir o desconforto e evitar a tensão.

Mas Hartvigsen sublinha que a dor é multifatorial - ligada ao stress, ao sono e ao comportamento sedentário - e não é simplesmente causada por olhar para o telemóvel. "O pescoço é uma estrutura forte, moldada por milhões de anos de evolução. Não é particularmente vulnerável. Os traumatismos provocados por acidentes de viação, violência ou desportos de contacto podem lesionar o pescoço, mas as atividades quotidianas geralmente não o fazem".

Além disso, a recente revisão sistemática da sua equipa no British Journal of Sports Medicine analisou mais de 100 estudos e não encontrou provas de que a dor no pescoço esteja a aumentar entre os jovens, apesar dos níveis sem precedentes de tempo de ecrã.

Assim, embora a expressão "síndrome de pescoço de texto" seja um título apelativo, não é sustentada pela ciência.