Secretas israelitas recolhe informações sobre jornalistas em Gaza e liga-os ao Hamas

Há umas semanas, a revista israelita+972 , juntamente com o site Local Call, revelou numa investigação que o exército israelita teria criou uma unidade especial conhecida como "Célula de legitimação", encarregada de recolher informações em Gaza que possam reforçar a imagem de Israel nos meios de comunicação internacional.
De acordo com as fontes desta unidade, que falaram aos meios de comunicação israelitas, a principal tarefa seria "demonizar" os jornalistas palestinianos em Gaza, acusando-os de serem terroristas e de terem ligações com o Hamas para justificar o seus ataques.
"Se os meios de comunicação internacionais falassem da morte de jornalistas inocentes por Israel, então havia uma pressão imediata para encontrar um jornalista que pudesse não ser completamente inocente", disse a fonte aos editores da investigação.
De acordo com a revista, a unidade criada chegou ao ponto de distorcer as informações para retratar os jornalistas como combatentes.
Exemplos repetidos de justificação do assassínio de jornalistas
A investigação cita como exemplo Anas al-Sharif,repórter do canal Al-Jazeera do Qatar, que foi morto juntamente com outros cinco jornalistas num ataque israelita que visou a tenda da imprensa, em frente ao complexo médico Al-Shifa, na cidade de Gaza.
Israel promoveu "documentos antigos" alegando filiação de al-Sharif com o Hamas desde 2013 para justificar o seu assassinato e o dos seus companheiros, sem mencionar as "alegadas provas" dos outros jornalistas mortos.
O porta-voz do exército israelita afirmou que o exército "não prejudica deliberadamente indivíduos não envolvidos, especialmente jornalistas, em conformidade com o direito internacional", sublinhando que al-Sharif era um "terrorista" que trabalhava sob a capa de um jornalista da Al Jazeera.
"Foram tomadas medidas para minimizar a possibilidade de ferir civis, incluindo a utilização de armas de precisão, vigilância aérea e informações adicionais", acrescentou.
A revista citou outros exemplos em que Israel forneceu "alegadas provas" para justificar o assassinato de jornalistas em Gaza.
O correspondente da Al-Jazeera, Ismail al-Ghoul, foi morto quando o seu carro foi alvo de um ataque israelita em julho de 2024.
Um mês mais tarde, o exército israelita publicou um documento, que se dizia ser do Hamas, afirmando que al-Ghoul era um comandante militar do movimento desde 2007, quando tinha apenas dez anos de idade.
Quanto a Hamza al-Dahdouh, morto em janeiro de 2024, Israel alegou que pertencia a Saraya al-Quds, a ala militar da Jihad Islâmica, e forneceu documentos para apoiar a sua história.
Segundo o autor da investigação, o jornalista Yuval Avraham, este mecanismo israelita foi aplicado contra centenas de jornalistas desde o início da guerra, no âmbito de uma política deliberada de criminalização do jornalismo em Gaza.
Os media como campo de batalha
De acordo com as mesmas fontes, a célula de "legitimação" não só procurava material que pudesse ser utilizado para justificar o assassinato de jornalistas em Gaza, como também tinha como objetivo "encobrir grandes massacres".
O artigo cita exemplos como o bombardeamento do Hospital Batista de Al-Ahli no início da guerra, em outubro de 2023 , que matou pelo menos 500 palestinianos. Neste caso, Israel apressou-se a publicar uma gravação áudio que alegava ser uma conversa entre membros do Hamas, apresentando-a como prova de que a explosão tinha sido causada por míssil palestiniano.
Foi também revelando que exército desclassificava informações confidências ou de acesso restrito dos serviços secretos para divulgação pública.
Mesmo ao pessoal dos serviços secretos fora da "célula de legitimação" era pedido que comunicassem qualquer material que pudesse ajudar Israel na guerra de informação.
"Havia uma frase que era «isto é bom para a legitimidade». O objetivo era simplesmente encontrar o máximo de material possível para servir o esforço de propaganda", disse uma fonte.
A investigação não excluiu a responsabilidade dos Estados Unidos, uma vez que, segundo as fontes, as informações recolhidas eram regularmente transmitidas aos americanos através de canais diretos.
De acordo com a investigação, o trabalho da "célula" e as informações que recolheu foram utilizados para convencer a opinião pública mundial de que o exército israelita "opera dentro do direito internacional", a fim de aliviar o estado de tensão e pressão sobre o Estado hebreu devido à sua guerra contínua contra Gaza.
Maioria dos civis mortos na guerra eram civis
Outro trabalho de investigação, realizado pela revista israelita e pelo jornal britânico "The Guardian", revelou que cinco em cada seis palestinianos mortos pelo exército israelita na Faixa de Gaza desde o início da guerra são civis.
A taxa de mortes de civis em Gaza atingiu 83%, o que é muito elevado e raro em guerras.
A investigação, que se baseou em dados militares confidenciais, salientou que o exército israelita classifica a maioria das pessoas que morrem como "terroristas" assim que são mortos, o que significa que," o número de civis mortos é mais do dobro do número de combatentes do Hamas", lê.se.
Na segunda-feira, mais quatro jornalistas foram mortos num bombardeamento do Hospital Nasser.
Numa breve declaração, as forças armadas israelitas confirmaram que o hospital tinha sido alvo de um atentado, mas lamentaram "qualquer ferimento causado a quem não estava envolvido". "Gostaria de deixar claro desde o início que as Forças de Defesa de Israel não têm como alvo intencional os civis. O Hamas iniciou esta guerra e criou condições impossíveis", diz num vídeo publicado na rede social X, o porta-for das IDF.
O número de jornalistas passa assim para 244 desde 7 de outubro de 2023, enquanto o contador continua a registar nomes sem parar.
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