Novo grupo de sete ativistas da flotilha regressa a Itália

Uma onda de emoção saudou os últimos ativistas italianos da Flotilha Global Sumud à sua chegada ao aeroporto de Fiumicino, em Roma. Entre coros, abraços, lágrimas e um denso agitar de bandeiras palestinianas e símbolos de protesto, os voluntários descreveram o seu cativeiro como uma experiência marcada por tortura psicológica, privação de sono e intimidação constante.
"Apontavam-nos armas, tanto a homens como a mulheres, e a comida não era comestível", conta um deles, visivelmente abatido. O regresso é ótimo, mas foram dias de violência gratuita. Recusámos o repatriamento voluntário porque não há nada de voluntário naquilo que vivemos".
Entre os italianos que regressaram encontram-se Antonio 'Tony' La Piccirella, Adriano Veneziani, Gessica Lastrucci, Giorgio Patti, Federica Frascà, Marco Orefice e Andrea Sebastiano Tribulato.
A antiga jornalista da Euronews Michela Monte também se encontrava entre os membros da flotilha e foi repatriada durante o fim de semana. Numa entrevista ao jornal Corriere di Bologna, em que descreve as condições de detenção, conta que "estava na ala das mulheres, onde havia cerca de 15 pessoas em cada cela. Estavam em roupa interior e fazia muito calor. Os soldados eram todos homens e tinham uma atitude brutal". A jornalista, atualmente a viver em Nova Iorque, recentemente regressada à sua cidade-natal de Rimini, conta também que lhes davam "sanduíches cheias de formigas e pouquíssima água".
A mobilização - afirmaram - não pára: "Haverá outras flotilhas, queremos quebrar o bloqueio naval", disse outro dos ativistas regressados, recordando a fase mais difícil: "Quando fomos intercetados, sofremos ataques com canhões de água e fomos tratados como reféns".
As autoridades italianas já receberam queixas de ativistas e deputados que participaram na missão, com acusações que vão desde o rapto aos maus tratos durante a detenção. Os processos estão agora a ser analisados pelo Ministério Público de Roma, que poderá posteriormente ouvir os próprios participantes como pessoas com informações sobre os factos.
Entretanto, segundo fontes citadas pela CBS News, a operação israelita, diretamente autorizada pelo primeiro-ministro Benyamin Netanyahu, terá incluído a utilização de drones e de dispositivos incendiários contra algumas embarcações ao largo do porto tunisino de Sidi Bou Said.
Entre os testemunhos dos ativistas está o da eurodeputada Benedetta Scuderi (Verdes). No plenário do Parlamento Europeu, Scuderi pediu que a ordem de trabalhos fosse alterada e que fosse acrescentado um debate sobre a situação da Flotilha Global Sumud, mas o pedido foi rejeitado.
A eurodeputada denunciou que os participantes na expedição da Flotilha foram apreendidos em águas internacionais, revistados e privados de sono, e que alguns foram agredidos fisicamente.
A antiga presidente da Câmara de Barcelona, Ada Colau, que também fazia parte do grupo, falou de maus-tratos e humilhações: "Centenas de polícias mantiveram-nos de joelhos, com a cabeça encostada ao chão, sem água e puxando-nos pela roupa. Não havia Estado de direito".
Expulsões de Israel para a Jordânia
Paralelamente, chegou de Israel a notícia de que 131 activistas da flotilha foram expulsos para a Jordânia através da ponte Allenby, segundo a agência noticiosa estatal jordana.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Amã, Embaixador Fuad Al-Majali, disse que este grupo inclui cidadãos do Bahrein, Tunísia, Argélia, Omã, Kuwait, Líbia, Paquistão, Turquia, Argentina, Austrália, Brasil, Colômbia, República Checa, Japão, México, Nova Zelândia, Sérvia, África do Sul, Suíça, Reino Unido, Estados Unidos e Uruguai.
Amã continua a trabalhar em estreita colaboração com as embaixadas estrangeiras para coordenar a partida e o repatriamento dos seus cidadãos da Jordânia. Israel ainda não se pronunciou oficialmente sobre a medida.
Voos charter para a Grécia e a Eslováquia
Israel também deportou mais 171 ativistas em voos charter para a Grécia e a Eslováquia. Em Itália, os custos das viagens de regresso foram adiantados pelas famílias dos ativistas e deverão ser reembolsados pelo Movimento Global para Gaza. Também os ativistas portugueses, incluindo a líder do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua, terão de cobrir os custos da viagem de repatriamento.
Entre os expulsos está também a sueca Greta Thunberg, a quem foi dedicado um post oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita, que a mostra desembarcada com duas outras mulheres no aeroporto Ben Gurion, vestida com os fatos cinzentos usados na prisão. "Poderia falar longamente sobre os maus-tratos que sofreram, mas perante os nossos olhos está a ocorrer um genocídio", disse Thunberg.
O caso da Flotilha Global Sumud ainda não terminou: enquanto alguns ativistas italianos regressam a casa recebidos como heróis, outros continuam detidos e outros foram expulsos para a Jordânia. As investigações jurídicas e diplomáticas prosseguem em várias frentes.
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