Ucrânia, defesa e economia no topo da agenda da reunião dos líderes europeus em Bruxelas

Os 27 líderes da União Europeia reúnem-se em Bruxelas para uma cimeira com uma agenda bastante preenchida, liderada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, as negociações lançadas por Donald Trump e os novos planos multimilionários para rearmar o bloco.
A reunião também abordará a necessidade de aumentar a competitividade, a gestão da migração irregular, a situação no Médio Oriente, a ordem multilateral e o futuro do orçamento da UE, que está sob forte pressão após anos de crises sucessivas.
A lista de temas é tão extensa que os chefes de Estado e de Governo poderão ser obrigados a pernoitar na capital belga e a prosseguir os debates na sexta-feira de manhã.
"Se não liderarmos, ficaremos para trás”, diz a presidente do Parlamento Europeu
Aos jornalistas, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, explicou que a União Europeia vive tempos desafiantes, afirmando que "todo o cliché de que estamos numa encruzilhada, que temos vindo a dizer há muitos anos, já não se aplica”, defendendo ações rápidas e concretas.
Os cidadãos da UE esperam que o blogue “assuma um papel mais importante na sua proteção”, disse a eurodeputada, que instou os líderes europeus a irem além da retórica e a tomarem medidas.
“70% dos europeus pensam que só a União Europeia os pode proteger. Por isso, hoje a minha mensagem será que precisamos de ser mais fortes, que os nossos cidadãos precisam de se sentir mais seguros e que precisamos de tornar as coisas mais simples", afirmou Roberta Mestola, que defendeu ser necessário enviar "a mais clara das mensagens sobre a Ucrânia" e em "como não deixamos de lado os princípios que estabelecemos sobre o que significa a paz na Europa já há três anos”.
Um dos principais temas da cimeira passa pela questão do rearmamento da União Europeia.
Kaja Kallas reforçou a nova linha do bloco, afirmando que a "fraqueza convida os agressores a atacar. É por isso que temos de fazer mais para que isto não aconteça".
Para Sánchez, defesa não se trata apenas de "Rearmar a Europa"
Já o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, parece ter uma opinião um pouco diferente, pelo menos no que diz respeito à abordagem sobre o investimento na indústria da defesa, começando pelo nome do programa "Rearmar a Europa".
“Penso que temos de nos dirigir aos nossos cidadãos de uma forma diferente”, disse Sánchez aos jornalistas.
Espanha e Itália estão atualmente a tentar obter uma definição mais ampla do que constitui despesa com a defesa, para poderem beneficiar da flexibilização das regras orçamentais aprovada no ano passado para financiar outras áreas relacionadas com a segurança e a preparação para situações de crise.
“É importante ter em conta que os desafios que enfrentamos na vizinhança sul são um pouco diferentes dos que enfrentamos no flanco leste, o que significa que temos de reforçar os nossos controlos fronteiriços”, defendeu Sánchez.
O líder socialista referiu ainda a necessidade de reforçar as capacidades da Europa para combater o terrorismo, os ciberataques e os ataques híbridos.
“Precisamos de mais Europa, e mais Europa significa mais política social, mais relações com outros blocos regionais, mais participação em debates multilaterais e, logicamente, também significa mais segurança e defesa”, afirmou.
Ucrânia deve manter-se democrática e soberana afirma Scholz
Na chegada ao evento, o chanceler alemão cessante, Olaf Scholz, falou aos jornalistas para reafirmar que é "crucial" que a Ucrânia tenha um exército forte, mesmo depois de um eventual acordo de paz.
Scholz diz as atuais conversações com a Ucrânia e a Rússia, levadas a cabo pelos Esados Unidos, devem terminar um cessar-fogo forte, que mantenha e cumpra estas conduções e que a Europa deve continuar a apoiar a Ucrânia “com uma posição clara” de que uma paz justa é fundamental para o país.
“A Ucrânia deve estar numa posição de força e qualquer cessar-fogo deve ser mantido, o que significa que a Ucrânia pode defender a sua independência e soberania”, afirmando que é importante que o país possa decidir o seu próprio caminho e escolher os seus próprios líderes.
Nova cimeira, problemas antigos
A cimeira surge envolta num sentimento de déjà vu, uma vez que os 27 se reuniram há apenas duas semanas para discutir a Ucrânia e a defesa. A reunião de emergência foi convocada em reação à diplomacia acelerada de Trump e à sua viragem para Moscovo, que agitou os líderes e alimentou o receio de um colapso iminente da aliança transatlântica.
Embora subsistam muitas dúvidas, o mal-estar diminuiu um pouco depois de a Ucrânia ter concordado com um cessar-fogo provisório de 30 dias e de os EUA terem levantado a suspensão da ajuda militar e da partilha de informações, assinalando uma melhoria nas relações bilaterais. Vladimir Putin respondeu com uma proposta mais limitada de cessar-fogo dos ataques contra as infra-estruturas energéticas e exigiu uma suspensão "total" do fornecimento de ajuda militar a Kiev.
O presidente Volodymyr Zelenskyy, que falou com Trump na quarta-feira sobre as próximas etapas das negociações, informará os líderes presentes na sala através de videoconferência.
"Se é verdade que Putin disse que devemos parar a nossa ajuda militar à Ucrânia, então lerão nas nossas conclusões exatamente o oposto", disse um diplomata sénior.
No entanto, espera-se que o capítulo sobre a Ucrânia das conclusões seja aprovado apenas por 26 Estados-membros, uma vez que a Hungria continua a opor-se firmemente a qualquer linguagem relacionada com a estratégia de "paz através da força" e a novas provisões de armas e munições. A mesma dinâmica foi adoptada há duas semanas, quando Viktor Orbán se opôs ao texto comum.
Além disso, os dirigentes vão abordar os ambiciosos planos da Comissão Europeia para aumentar rapidamente as despesas com a defesa, incluindo um novo programa de empréstimos de 150 mil milhões de euros, e libertar o potencial dos 10 biliões de euros que os cidadãos da UE têm em poupanças. A iniciativa de rearmamento recebeu um amplo apoio das capitais, mas é necessário prosseguir o trabalho legislativo antes de a Comissão poder ir aos mercados e obter o dinheiro para os empréstimos.
Durante o jantar, os 27 irão deliberar sobre o orçamento do bloco para o período 2028-2034, embora esta parte da cimeira fique sem conclusões pormenorizadas porque o processo ainda está na fase inicial. O debate sobre o próximo orçamento será explosivo e complexo, com as novas prioridades em matéria de defesa, ambiente, digital e Ucrânia a procurarem mais espaço, a par dos envelopes tradicionais da agricultura e da coesão.
"O desafio é a equação financeira: como fazer corresponder as nossas ambições aos recursos da nossa União", disse um alto funcionário da UE.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, juntar-se-ão aos líderes em diferentes momentos do longo dia.
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