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Marinha portuguesa vigia ameaça russa a cabos submarinos

• Aug 4, 2025, 8:29 AM
13 min de lecture
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No início de novembro de 2024, o Centro de Operações Marítimas da Marinha Portuguesa recebeu a informação dos países aliados de que um navio russo estava a aproximar-se de águas nacionais. Nas semanas anteriores tinha «vagueado» em águas britânicas, sobre infraestruturas submarinas críticas. Tratava-se do Yantar, uma alegada embarcação científica pertencente à Federação Russa, mas que os Estados-membros da NATO e da União Europeia acreditam tratar-se de um navio espião ao serviço da Glavnoye Upavlenie Glubokovodsk Issledovannii (GUGI) – Administração Principal de Investigação em Águas Profundas, em português –, um departamento secreto do ministério da Defesa Russo especializado em operações subaquáticas.

Como faz sempre que navios russos entram em águas de jurisdição nacional, a Marinha acionou os meios necessários para o seu acompanhamento. O Navio Patrulha Oceânico Sines, uma embarcação não combatente cuja prioridade é exercer funções de autoridade do Estado, foi mobilizado para acompanhar o Yantar na Zona Económica Exclusiva (ZEE) nacional.

O objetivo era dissuadir o barco russo de realizar ações de exploração subaquática sem autorização nacional. Uma preocupação crescente dos países ocidentais, incluindo Portugal, desde a invasão da Ucrânia, e que ficou expressa no Relatório Anual de Segurança Interna de 2024: «As ameaças com origem em atores estatais contra infraestruturas submersas, como os cabos submarinos de comunicações, têm sido avaliadas com prioridade, considerando o registo de atividade de reconhecimento sobre esse tipo de infraestrutura realizada no território nacional por navios estrangeiros.»

Apesar de a maioria dos danos em cabos submarinos serem acidentais, provocados por navios de pesca, tem havido casos em que se suspeita que os incidentes não terão sido inocentes. Foi o que aconteceu em outubro de 2023, quando o gasoduto Balticconector e dois cabos que ligam Estónia, Finlândia e Suécia foram danificados após a passagem pela zona de um navio chinês e outro russo.

A missão do NRP Sines era impedir ações semelhantes em águas nacionais. Mas ao contrário de outras ocasiões, em que as missões duram poucos dias, a passagem do Yantar pela ZEE portuguesa iria durar quase um mês, até à noite de 24 de novembro. O que a embarcação, que transporta pequenos submarinos para exploração a grandes profundidades, fez em águas de jurisdição portuguesas? Ninguém sabe ao certo. Todavia, esta foi apenas uma das 143 operações de acompanhamento da Marinha a embarcações russas entre 2022 e o fim de 2024. E, de acordo com os dados cedidos ao Nascer do SOL, a tendência tem sido crescente. No primeiro desses anos – o da invasão da Ucrânia – foram seguidas 14 embarcações. No seguinte o número aumentou para 46. Em 2024 foram 83. Dos 143, 31 eram navios de «investigação científica»: 6 em 2022, 11 em 2023 e 14 em 2024.

Para acompanhar todas estas embarcações, explicou ao ao Nascer do SOL o porta-voz da Marinha, Ricardo Sá Granja, foram empenhadas «32 unidades navais de diferentes tipologias (fragatas, navios de patrulha oceânico, lanchas de fiscalização costeira e lanchas de fiscalização rápida)», um total de «5520 militares» que cumpriram «cerca de 6450 horas de navegação por essas Unidades Navais».

A presença crescente de navios russos em águas nacionais obrigou também os militares portugueses a adaptarem-se. Todavia, garante Ricardo Sá Granja, não foi necessário implementar qualquer plano específico. «A Marinha Portuguesa monitoriza as águas sob soberania ou jurisdição nacional, recorrendo a diversas ferramentas, técnicas e procedimentos que lhe permitem obter conhecimento situacional marítimo e conhecimento das atividades que ocorrem nestas áreas marítimas. Neste contexto, a Marinha adaptou os seus planos de emprego operacionais para fazer face a esta ameaça, considerando-se que eles são suficientemente abrangentes para o efeito», explicou o porta-voz, acrescentando que tem havido sempre «cobertura orçamental para a realização destas missões».

Ricardo Sá Granja esclareceu também que «nas águas de soberania, jurisdição ou responsabilidade nacional, não se verificou qualquer tentativa de disrupção de cabos submarinos, considerando-se fundamental manter o acompanhamento da atividade naval nas nossas águas, como efeito dissuasor de potenciais tentativas».

Mapa de cabos submarinos
Mapa de cabos submarinos https://www.submarinecablemap.com/

Estruturas críticas

Há muito que as águas portuguesas são alvo de interesse estratégico por parte de potências mundiais. Em 2019, no número 53 dos Cadernos Navais, uma publicação do Centro de Estudos Estratégicos da Marinha, o então vice-almirante Henrique Gouveia e Melo escrevia que «de um ponto de vista geoestratégico, no espaço aero-marítimo português circulam (…) os grandes fluxos de dados que ligam a África ocidental e as Américas à Europa (por via de cabos submarinos com mais de 90% do tráfego digital)». Também por isso, acrescentava, «as águas portuguesas são naturalmente uma zona cobiçada na perspetiva da capacidade de controlo das ligações do Atlântico ao Mediterrâneo e do Atlântico Sul à Europa».

Essa importância tem aumentado ao longo dos anos. Graças à centralidade atlântica, Portugal «tem vindo a assumir uma importância cada vez mais nevrálgica nas rotas de cabos submarinos», sendo o único «país do mundo com ligações diretas (…) estabelecidas com todos os continentes, à exceção da Antártida», salientou a consultora em Política do Mar, Inês Aguiar Branco, num artigo publicado o ano passado na revista Nação e Defesa.

Os primeiros cabos de comunicações a passar por Portugal foram os do telégrafo. Em 1870 a estação de Carcavelos ligou o nosso país a Londres. Quatro anos depois foi feita a ligação ao Funchal e em 1893 a Ponta Delgada. A partir do final do século XX estas infraestruturas não pararam de crescer, havendo, atualmente, 16 cabos com amarração (o ponto em que chega a terra) em Portugal, espalhados por Sagres, Sines, Sesimbra, Seixal e Carcavelos (ver infografia). Alguns deles são dos mais importantes do mundo. É o caso do EllaLink, o único que liga diretamente a Europa à América Latina (Brasil) ou o 2Africa, o maior do mundo. Há mais cinco em construção, segundo o site Submarine Cable Map. Um deles, o Nuvem, pertencente à Google, vai ligar os Estados Unidos a Portugal, com passagem pelos Açores.

Um projeto fundamental para as comunicações nacionais dos próximos 25 anos (o tempo de vida destas ligações) está a ser construído pelo Estado português. Trata-se do novo anel CAM (Continente, Açores, Madeira), que, de acordo com uma apresentação da Infraestruturas de Portugal, pretende afirmar Portugal como uma «plataforma Atlântica de amarração de cabos», ser a principal interligação do «Atlântico à Europa» e uma «alavanca para a rede europeia de datacenters e comunicações». Custará 154 milhões de euros, conta com fundos comunitários e, para além das comunicações, terá também sensores de monitorização para deteção sísmica e climática/ambiental. Ou seja, servirá ainda como primeiro sistema de alerta para sismos e tsunamis e ainda para medir a temperatura da água em trabalhos sobre alterações climáticas.

Estes sensores chegaram a ser motivo de conversa com os aliados da NATO. Uma fonte militar explica ao Nascer do SOL que «os americanos ficaram preocupados porque os novos sensores serão capazes de detetar a vibração provocada pela passagem de um submarino. Esse tipo de informação tem de ter alguma proteção. Quem estiver no ancoradouro, em Sines, poderá aceder a esses dados que serão importantes num contexto de conflito».

É também por isso que a ação de navios como o Yantar causam particular preocupação. A embarcação está ao serviço da Glavnoye Upavlenie Glubokovodsk Issledovannii (GUGI), ou Administração Principal de Investigação em Águas Profundas, um departamento secreto do ministério da Defesa Russo especializado em operações subaquáticas. Criada em 1975, a GUGI opera submarinos nucleares e navios de investigação cuja missão principal é a exploração e manipulação de infraestruturas subaquáticas, bem como operações de reconhecimento e sabotagem. Intercetam cabos de comunicações, instalam sensores de movimentos para detetar submarinos adversários e recuperam destroços do fundo do mar. Os seus membros são considerados forças especiais de elite. Já os responsáveis da GUGI operam de forma autónoma em relação aos outros ramos do exército russo e respondem diretamente ao ministro da Defesa. A organização tem quartel em São Petersburgo e base na baía de Olenya, no mar de Barents.

O Yantar foi lançado à água em 2015 e inclui, entre o seu equipamento, submarinos de três lugares com capacidade para mergulhar a 6000 e 6500 metros. Nas operações de vigilância, uma das principais tarefas da marinha portuguesa é garantir que esses equipamentos não entram em ação. «Ao contrário do que acontece nos bálticos, em que a profundidade é reduzida, a média da profundidade das águas na Zona Económica Exclusiva nacional, onde assentam os cabos, é de 1200 metros», explica ao Nascer do SOL o Contra-Almirante Nuno de Noronha Bragança, coordenador do Atlantic Centre .

Operação de resgate

Um exemplo dessas missões subaquáticas do Yantar ocorreu pouco depois da passagem por Portugal, em novembro de 2024. No mês seguinte, entre 19 e 22 de dezembro, o Centro de Operações Marítimas da Marinha monitorizou a passagem por águas de jurisdição nacional de vários navios russos, incluindo o Ursa Major, um cargueiro que transportava, alegadamente, material militar. Um dia depois, a 23 de dezembro, ao passar entre Espanha e a Argélia, três explosões – que o governo russo diz terem sido ataques terroristas – afundaram o navio.

Em janeiro o Yantar saiu do porto de Argel e foi detetado na zona do naufrágio. Especialistas ouvidos na época pela Euronews acreditam que a embarcação do GUGI estaria a recolher provas do afundamento e, potencialmente, a «recuperar ou destruir» equipamento sensível. A 17 de janeiro o Yantar deu por terminada a missão e iniciou o regresso à sua base. Durante dois dias, até 19 de janeiro, a Marinha Portuguesa, através da NRP D. Francisco de Almeida e do NRP Setúbal, fez o «acompanhamento próximo de todos os movimentos deste navio-espião».

À passagem pelo Canal da Mancha, o Yantar foi flanqueado pelo HMS Somerset. Para a marinha britânica, tratava-se de uma provocação depois de, em novembro, antes da passagem por Portugal, a embarcação espiã ter, como foi noticiado, vagueado sobre infraestruturas críticas e só ter abandonado a região após receber um aviso de um submarino. Nesta segunda passagem, o secretário da Defesa britânico, John Healey, afirmou: «A minha mensagem para o presidente Putin é clara. Sabemos o que está a fazer e não nos intimidaremos de realizar ação robusta para proteger o Reino Unido». Acrescentou ainda que o Reino Unido continuará a «denunciar a atividade maligna que Putin dirige, reprimindo a frota sombra russa para impedir o financiamento da sua invasão ilegal da Ucrânia».

A monitorização dessa frota sombra está também no centro da ação das forças portuguesas. **«A Marinha monitoriza os navios que possam ter o intuito de trasfegar crude, como forma de evasão às sanções internacionais impostas à Federação Russa (atividade conhecida por bunkering). Por esse motivo e no cumprimento do direito que a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito no Mar atribui aos estados costeiros, a Marinha desenvolve ações de monitorização e de dissuasão que visam evitar eventuais ações nocivas ao meio ambiente, que possam ocorrer nos espaços marítimos nacionais»**, explicou o porta-voz Ricardo Sá Granja.

Para além dos avisos públicos a Putin, em junho o governo britânico deu um novo passo e decretou sanções sobre a GUGI. O objetivo: «proteger o Reino Unido de ataques a infraestruturas submarinas.»


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